Experimentamos o novo Mercedes-AMG C63 S, que chega ao Brasil por R$ 546 mil
Versão mais esportiva do Classe C tem novo motor V8 de 510cv
Até 1967 a Mercedes fazia carros bonitos, bem acabados e duráveis, mas só os esportivos andavam realmente rápido. Foi do esforço dos engenheiros da marca Hans Werner Aufrecht e Erhard Melcher em transformar o Mercedes 300 SE num carro rápido o suficiente para participar das corridas de turismo europeias. Nascia ali a AMG, que hoje transforma até jipes em esportivos. Só que desta vez fomos conhecer o novo Mercedes-AMG C63 S.
A relação entre a AMG e a Mercedes tem muito a ver com a versão esportiva do Classe C. A primeira parceria oficial entre as duas empresas aconteceu em 1993, com a criação do C36 AMG. Deu tão certo que em 1999 a Mercedes comprou a AMG e a transformou em sua divisão de alto desempenho. E ainda hoje o Classe C esportivo é seu carro chefe. Mesmo que com o nome um pouco diferente.
É difícil chamar o “Mercedes C63 AMG” de “Mercedes-AMG C63”, mas é assim que funciona na nova nomenclatura de carros da Mercedes para estreitar os laços com suas divisões (a esportiva, AMG, e a de luxo, Maybach). No fundo, os AMG são Mercedes com pegada mais bruta nas horas certas.
Lobo em pele de sedã
Estou no autódromo Vello Cittá, em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo. O sedã cinza teria tudo para ser mais um Classe C não fosse pelas tomadas de ar enormes no para-choque dianteiro e pelas rodas aro 19” exclusivas da AMG. Passa por mim e percebo o spoiler em fibra de carbono na tampa da mala e as quatro saídas de escape integradas no difusor. Mas nada justifica a régua cromada sobre a placa traseira…
O ronco que ecoa das saídas de escape é inspirador. Sai do novo motor V8 4.0 litros biturbo de 510cv e 71,3kgfm na versão S, única importada ao Brasil. Na Europa ainda tem uma de 475cv, mais próxima dos 457cv da geração anterior, que usava o clássico V8 de 6,2 litros aspirado. Culpe as leis de emissões europeias.
Minha hora de dirigir a fera. Logo ao abrir a porta percebo que aquele ambiente está um pouco longe do que se vê normalmente em sedãs médios. Sou abraçado pelo banco concha e caço a alavanca para regular o volante, mas o ajuste é elétrico, por uma das quatro hastes presas na coluna de direção (ainda tem a da seta, do piloto automático e do câmbio, que fica do lado direito). Espelhos no lugar. Hora acelerar? Ainda não.
O C63 é dono de muitas personalidades, que podem ser configuradas entre as configurações da suspensão esportiva AMG RIDE CONTROL, com amortecedores magnéticos, do diferencial blocante traseiro controlado eletronicamente e do sistema DYNAMIC SELECT com modos de transmissão específicos da AMG (com direito a modo “Race” na versão S). No final das contas, as configurações também interferem no peso da direção e na permissividade do controle de estabilidade.
Tudo no modo Sport+, mas a suspensão fica no modo Sport. Até poderia ter utilizado o controle de largada, mas preferi sair devagar para entender o C63 antes de levar o acelerador até o final de seu curso. As primeiras curvas serviram para ver como o controle de estabilidade é atuante, principalmente nas saídas das curvas (é possível ver isso no vídeo). O macete é acelerar de forma mais progressiva para os processadores sentirem confiança – e perderem o medo da traseira ultrapassar a frente, risco inerente a um carro tão potente e com tração traseira.
Começo a me entender com o carro e a prestar atenção no ronco, que embola a cada troca de marcha. Um brado tão retumbante quanto o do povo heroico que estava às margens do Ipiranga. Obrigado, câmbio de dupla embreagem e sete marchas!
Me dou conta de que aquela poderia ser minha única volta com o C63 e aproveito a curva de alta na parte superior do Vello Cittá para pedir tudo que o motor pode dar. A aceleração é descomunal e as trocas acontecem no início da faixa vermelha, aos 7000rpm! Mas a frenagem antes do trecho sinuoso é forte e, mesmo andando reto, a massa se desloca para a frente deixando a traseira leve e o carro dá uma rabeada. E o controle de estabilidade corrige.
Curvas para lá e para cá. Hora de voltar aos boxes com a certeza de que, de fato, este é um sedã médio capaz de chegar aos 100km/h em 4 segundos redondos sem desconfiar da máxima de 290km/h. Há outras certezas, como a inutilidade do sistema de som premium da Burmester diante de ronco tão deselegante e a de que dificilmente terei um C63 S como blogueiro: custa 210 mil… dólares! A Mercedes subsidia a cotação do dólar a R$ 2,60, fechando a conta em R$ 545.740.