Volkswagen Move Up! 2p – As portas dos desesperados
Divertido e econômico, modelo peca em besteiras com duas portas a menos
O gosto do consumidor mudou nos últimos anos e isso já custa a sobrevivência das peruas. Outros que ficaram esquecidos foram os carros com duas portas, outrora dominantes no mercado brasileiro e que hoje se tornaram raros até entre os carros mais baratos. O Volkswagen Up! duas portas chegou às lojas em maio na tentativa de provar que todos nós estamos errados – ou não.
Há pontos positivos. O maior deles é que o Up! ganha em simpatia com duas portas a menos. Elas são maiores para facilitar o acesso a um banco traseiro, e ornam melhor com a carroceria pequena, que mantém os 3,60m de comprimento. Com os vidros laterais traseiros menores, o desenho fica mais limpo e até mais agradável.
Fica mais bonito, sim, mas não mais prático. As novas portas têm quase a metade do comprimento do carro, para facilitar o acesso ao banco traseiro. Só que abri-las naquela vaguinha estreita que este tipo de carro geralmente adora exigirá mais cuidado. Prática em sair do carro com a porta na primeira trava é um diferencial no currículo dos candidatos a proprietário de um Up! 2p.
Não bastasse isso, a coluna B é deslocada para trás, levando consigo os cintos de segurança dianteiros. Acessá-los para afivelar requer um exercício de alongamento. Repita o movimento para o outro lado e viva melhor, mas não procure por regulagem em altura, pois não há – apesar de aparentar a predisposição para isso. A regulagem fixa não é incômodo no quatro portas, mas neste faz o cinto passar pelo pescoço de alguns. Ao menos na unidade avaliada o banco do motorista e o volante tinham regulagem.
Para acessar o banco de trás, puxa-se uma alavanca no banco dianteiro e inclina-se o encosto. Se o espaço não for suficiente, basta continuar puxando o banco para que corra para frente. Só que quem estava sentado ali perdeu a posição do seu banco… Espera-se compreensão dos dois quem irão sentados atrás, pois o espaço para as pernas não é dos maiores. Sim, dois. Mesmo que haja encosto de cabeça para um terceiro, é melhor não tentar peripécia de levar cinco adultos num Up!. O espaço e até os porta-trecos lembram muito o que se vê na Saveiro Cabine Dupla.
O porta-malas é digno. Com 285 litros, tem capacidade maior que Fox e Gol, e ainda possui uma espécie de prateleira vendida como opcional que a torna mais rasa, facilitando o acesso aos objetos no dia a dia.
É um carro para um solteiro, um casal jovem, para quem precisa de um veículo menor e mais econômico para o dia-a-dia. Até a senhorinha que não tem mais a mesma noção de espaço que antes vai curtir. A questão é que um Up! com quatro portas resolve a vida de todos do mesmo jeito.
Difícil mesmo é não ver o Up! como um brinquedo - no sentido literal da palavra…
Propósitos e despropósitos
A Volkswagen evita chamar o Up! de subcompacto, mas isso não é demérito. É um carro concebido para ser prático, eficiente, pequeno e, ainda assim espaçoso. Seria exatamente como o velho Fusca se fosse barato (falaremos disso depois).
Então no interior dele tudo é prático e simples. Este Move Up! ainda tem quadro de instrumentos completo, com o velocímetro no meio com o computador de bordo abaixo, o conta-giros à esquerda e o marcador de combustível à direita. Na versão de entrada, Take, não há conta-giros e o marcador de combustível é digital, mas não chega a ser vulgar como o do primeiro Fox.
Você acende os faróis pelo botão giratório à direita do volante (coisa que no Gol é reservado às versões mais caras), e ao esbarrar na alavanca de seta ele dá três piscadas. Tem certeza que este é carro de entrada da Volkswagen? Sim, os vidros elétricos não têm função um toque e nenhuma versão pode ter volante multifunção.
Surpreso pelos comandos de ar-condicionado no topo do painel com o sistema de som abaixo? Pois é, a saída de ar é pela parte superior, atrás da telinha do Maps&More. O vento não vem na sua cara, vai direto para o teto e, em seguida, para o banco de trás. De fato, melhora a eficiência térmica do ar-condicionado, só que o vento gelado bate no espelho interno e em dias úmidos, basta abrir a janela um pouquinho para que ele fique embaçado.
O tal do Maps&More é esta telinha de 5” que mais parece um aparelho de GPS preso no topo do painel. Nesta versão é vendido junto com sistema de som integrado ao painel numa versão sem USB, mas com entrada auxiliar. Tem GPS, mas ainda gerencia o funcionamento do Bluetooth para chamadas e reprodução de músicas do celular. A grande sacada é o computador de bordo com informações em tempo real de consumo, sistema que educa o motorista a dirigir de forma eficiente e ainda pode exibir a temperatura do motor e conta-giros.
Estranhou o interior clarinho? É uma opção da versão Move Up!. Neste carro prata o cinza claro caiu bem – afinal a lataria fica exposta nas portas –, mas poderia ter plásticos pretos e enquanto no Take o painel tem tom cinza escuro. Ah, os bancos dianteiros sempre têm encostos de cabeça fixos, mas são confortáveis graças ao assento mais comprido que apoia melhor as coxas. Não cansa após uma viagem, ao contrário do que acontece na família Gol.
Comportamento de gente grande
Sim, eu falei em viajar ali em cima. Durante nossa avaliação resolvemos pôr o Up! à prova na estrada. A ideia era ir do Rio de Janeiro a Teresópolis, um percurso de 180km com serra, e voltar sem gastar meio tanque. Como lastro, os dois membros mais pesados da equipe, totalizando 230kg.
O motor que equipa o Up! é todo moderninho. É um 1.0 12v três cilindros com 75 cavalos de potência na gasolina e 82cv quando com etanol, sempre a 6.250rpm. O torque máximo é de 9,7kgfm (G) e 10,4kgfm (E), sempre a 3000rpm. São bons números, mas nada incrível. O que impressiona é a forma como a força é entregue.
Esse motorzinho respira bem e gosta de girar alto, vai de 3.000 a 6.000rpm em um instante e adora trabalhar nesse regime. De quebra, o três cilindros faz um ronquinho empolgante e vibra – principalmente com álcool – de uma forma que estimula a adiar as trocas de marcha. Isso seria agravado se o isolamento acústico não fosse tão bom, de permitir uma conversa civilizada a 110km/h, com o motor trabalhando a 3500rpm. Mesmo neste regime o motor não começa a pedir arrego, em quinta marcha é capaz de responder a pressão extra no acelerador sem chamar a quarta.
Num segmento repleto de motores antigos sufocados pela central de gerenciamento do motor remapeado centenas de vezes para emitir menos poluentes, as respostas se assemelham a motores 1.4 8v antigos, como os da PSA e da Fiat. Para um 1.0 é excelente.
Se nas retas o Up! faz ultrapassagens como gente grande e se mostra surpreendentemente estável, na serra não nega fogo e sobe muito bem, pedindo segunda marcha apenas em curvas fechadinhas. E como gosta de curvas este subcompacto… O acerto de suspensão é para quem ama dirigir, com pouca rolagem e a direção colabora com respostas certeiras para o entre-eixos curtinho. O bom câmbio de cinco marchas com engates rápidos e não atrapalha a festa. É um brinquedo divertido!
E é uma diversão barata. Com gasolina, a média de consumo na ída foi de 12,5km/l, o mesmo que faz na cidade, mas subiu para 14,4km/l quando computado todo o percurso. E ainda sobrou 1/4 do tanque que, segundo o Maps&More, seria suficiente para mais 170km. Se houvesse mais um litro no tanque, daria para repetir a viagem…Na cidade com álcool o consumo ficou em 10,5km/l.
Quase um carro do povo
O que separa o Volkswagen Up! do título de “Fusca do século 21” é o preço. O Up! já não é o carro mais barato da marca: parte dos R$ 28.060, contra os R$ 27.990 do Gol Special. Sem contar que ter um “VW” estampado quase sempre significa que confortos são pagos à parte.
Façamos as contas: Os preços do Move Up! duas portas começam em R$ 30.140. Para montar um carro igual ao avaliado precisamos somar R$ 1.091 da pintura metálica, R$ 1.165 pelo “acesso completo” (vidros, travas e retrovisores elétricos, estes com repetidores de seta, e alarme), R$ 350 dos sensores de ré, R$ 508 das rodas aro 14”, R$ 2.940 do ar-condicionado e R$ 1.330 da direção elétrica. Até aí, R$ 37.174.
Só que não está completo, falta o sistema de som. Para isso, some R$ 246 de alto-falantes. Há um sistema de som sem Bluetooth mas com USB por R$ 562, mas queremos o Maps&More que custa R$ 1.200, mas requer um kit de instalação de R$ 663.
Total do carro avaliado: R$ 39.633
- Um Gol equivalente, Comfortline, sempre quatro portas, custa quase R$ 43 mil enquanto um Fox Trend chega aos R$ 43.300.
Conclusão
Eu realmente gostaria de fazer parte do povo que pode ter um Up!. Por mais que o pequenino seja mais barato que os irmãos mais velhos, continuamos falando de um subcompacto com duas portas que beira os R$ 40 mil. Quem sabe usado, um dia…
Galeria
Fotos | Fabio Perrotta
O que ouvir no Move Up!?
Ficha técnica
Motor: Flex, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando simples no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico. Potência de 82 e 75cv a 6.250rpm com etanol e gasolina. Torque de 10,4 e 9,7kgfm a 3.000rpm com etanol e gasolina.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Desempenho: 0 a 100km/h em 12,4 e 12,6 segundos com etanol e gasolina. Velocidade máxima: 165 e 163km/h com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 74,5mm X 76,4mm. Taxa de compressão: 11,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, traseira por eixo de torção.
Pneus: 175/70 R14.
Freios: Discos ventilados na frente e discos à tambor atrás. Oferece ABS com EBD de série.
Dimensões: 3,60 metros de comprimento, 1,64 m de largura, 1,50 m de altura e 2,42 m de entre-eixos.
Peso: 910kg
Capacidades: 285L no porta-malas e 50L no tanque de combustível