Red Up! I-Motion – Faça você mesmo
Câmbio robotizado com trocas lentas faz sentir saudades da versão manual
Apesar de pequenas faltas, o Volkswagen Move Up! duas portas nos agradou bastante, e esta boa impressão ainda estava fresca na mente quando o Red Up! I-Motion entrou em nossa garagem. Daí a grande responsabilidade deste que se intitula o primeiro 1.0 nacional com câmbio automatizado – isso se você esquecer dos raríssimos DKW com câmbio Saxomat, claro.
Esta é a configuração mais cara do Up!. A Red é uma versão especial permanente, assim como as White e Black. São as únicas que têm ar-condicionado e rádio CD player com Bluetooth de série, além rodas aro 15”, direção eletro-hidráulica com regulagem de altura, faróis de neblina e trio elétrico. Só revestimento em couro, a centralzinha Maps & More e o câmbio I-Motion são opcionais.
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O único que merece apresentações é o I-Motion, que parece conhecido e por si só muda todo o comportamento do carro. É em torno do câmbio que gira esta avalição.
“Pera, tô escolhendo a marcha…”
Apesar do nome, esta não é a transmissão Magneti Marelli usada Gol, Fox e Polo. O Up! tem uma própria, a SQ100, fornecida pela ZF e importada da Europa. O que as separa é a forma como os mecanismos operam: no Up, o mecanismo não é eletro-hidráulico, mas apenas elétrico, o que a torna mais leve e compacta – algo extremamente importante para o Up! e seu minúsculo cofre do motor. Uma diferença simples é que não há o ruído agudo característico da bomba hidráulica.
Enquanto o I-Motion de segunda geração – de Fox Highline e Gol Rallye – revela uma boa evolução em comparação com anterior, este do Up te faz duvidar se a responsável por sua produção é mesmo a ZF, que está por trás do excelente câmbio automático de 8 marchas que equipa quase uma centena de carros, de Amarok ao Rolls-Royce Phantom.
Você já deve estar esperando por uma reclamação sobre trancos, mas não é este o problema. Trancos são pontuais e as trocas costumam ser suaves, o maior problema está nas trocas extremamente lentas.. Duas situações exemplificam:
Mudando de faixa: Olho o retrovisor e vejo espaço suficiente para entrar na faixa antes que o carro que o próximo carro me passe. Com o carro em quarta, chamo a marcha inferior no acelerador (kickdown) para ganhar velocidade para a manobra e… O câmbio entra em uma crise existencial no melhor estilo “reduzir ou não, eis a questão” e só aí reduz, mas já perdi o tempo e aborto a manobra.
Em curvas: Após frear naturalmente antes da curva, chego ao ápice e volto a exigir o motor e… Ele parece estar completamente distraído e demora a decidir qual marcha usar para a retomada. Quando decide, já estou fora da curva me sentindo em uma lesma – ou num Veloster.
Esses casos acontecem geralmente em 1°, 2° e 3° marchas, momentos mais críticos para um motor tão pequeno. Poderia ser muito pior se este 1.0l MPI de 3 cilindros de 82cv e 10,4kgfm não fosse tão elástico. É se valendo disso que o câmbio ousa não esticar as marchas para economizar combustível. Resultado: ele quase não fica em segunda e a quinta é engatada aos 60km/h.
A culpa não é de Newton
“Ah, mas você pode usar o modo manual!”, diria você. Sim, qualquer um pode, desde que o cérebro se entenda com um comportamento que vai contra a primeira lei de Newton, a da inércia.
Diz ela que o corpos tem tendência a permanecer em seu estado natural, de repouso ou movimento, explicando o fato de seu corpo ir para trás ao acelerar e pra frente ao frear. A alavanca do I-Motion não respeita esse movimento como os outros: você aumenta uma marcha mandando a alavanca pra frente e reduz puxando para trás! É algo que exige adaptação, até porque não há - nem como opção - borboletas atrás do volante.
São questões que fazem o Up! automatizado não decepcionar apenas quem está acostumado com câmbio automático, mas também quem já dirigiu o Up! manual. Sentir a embreagem “queimando” ao arrancar com mais vigor dá dó. Também surge o sentimento de inveja do robô controlando aquele câmbio tão bom em sua versão com alavanca e pedal de embreagem. Mas que o robô poderia ser menos preguiçoso, ah poderia!
Também fazem falta a função creeping e o sistema Hill Holder. O primeiro simula aquela aceleração natural que carro automático tem ao se soltar o freio em Drive, e ajuda a evitar soluços e imprecisão ao se movimentar em baixa velocidade ou em manobras. Já o segundo é o sistema que segura o carro em aclives, garantindo alguns poucos segundos para que se possa soltar o freio e acelerar antes do carro recuar. Largar em uma ladeira também garante uma “queimada” na embreagem.
Na prática, não se sente aquele vigor da versão manual que surpreende quem vê um Up! como reles 1.0. O automatizado se tornou isso. A Volkswagen anuncia o a 0-100km/h em 12,4s para o manual e 12,8s para o automatizado, um número tangível apenas em modo manual. O consumo é que teve uma discreta melhora, marcando 10,8km/k com álcool na cidade contra os 10,5km/l que fizemos com o manual.
O Up! I-Motion é uma opção para quem quer se livrar do pedal de embreagem de qualquer jeito, mesmo que o sistema acabe com toda a diversão que o comportamento do Up! manual proporciona. Seja como for, o sistema não prejudica seu consumo nem lhe tira outros pontos fortes, como a suspensão bem acertada, os bons freios, a direção com peso correto e a segurança.
Um Up! completo
As coisas funcionam diferente com o Red Up!, e isso fica evidente ao ver que tanto ele como os White e Black são os únicos com ar-condicionado de série. São versões que tentam transformar a imagem de carro de entrada em um carrinho legal e simpático. Para isso, só detalhes como a cor da carroceria se repete nas calotinhas das rodas aro 15” e no centro do painel, o nome da versão gravado nas portas, retrovisores com capa prateada e frisos nas portas. E só. O Up! já nasceu simpático.
Os preços do Red Up! começam em R$ 41.930, ou R$ 44.840 com câmbio I-Motion (que também é oferecido para as versões Move e High, além do Cross Up!). Somados os R$ 1.306 do Maps&More e seu kit de instalação resulta em nada modestos R$ 46.146, restando apenas o opcional de bancos completamente revestidos em couro sintético (R$ 708). Por R$ 3 mil a mais é possível comprar um Gol Comfortline I-Motion completo, porém, por R$ 2 mil a menos leva-se para casa um Kia Picanto automático.
Custo benefício, definitivamente, não é um dos pontos fortes desta versão. Melhora se partir para versões inferiores, como o Move Up I-Motion 2p (R$ 32.340), 4p (R$ 34.440) ou High Up I-Motion 4p (R$ 40.150), mas há de se considerar alguns opcionais, principalmente o ar-condicionado (R$ 2.940).
Galeria
Fotos | Henrique Rodriguez
O que ouvir no Move Up!?
Ficha técnica
Motor: Flex, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando simples no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico. Potência de 82 e 75cv a 6.250rpm com etanol e gasolina. Torque de 10,4 e 9,7kgfm a 3.000rpm com etanol e gasolina.
Transmissão: Câmbio automatizado de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Desempenho: 0 a 100km/h em 12,8 e 13 segundos com etanol e gasolina. Velocidade máxima: 165 e 163km/h com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 74,5mm X 76,4mm. Taxa de compressão: 11,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, traseira por eixo de torção.
Pneus: 175/70 R14.
Freios: Discos ventilados na frente e discos à tambor atrás. Oferece ABS com EBD de série.
Dimensões: 3,60 metros de comprimento, 1,64 m de largura, 1,50 m de altura e 2,42 m de entre-eixos.
Peso: 955kg
Capacidades: 285L no porta-malas e 50L no tanque de combustível