BMW 320i ActiveFlex – Alemão por pouco tempo
Quase naturalizado, sedã mostra que é mais do que um rostinho bonito
Seu melhor amigo te liga avisando que vai casar e você terá a honra de ser padrinho. Sim, você que passa o dia de jeans e tênis colorido terá que comprar um terno. Duas escolhas: ir a uma loja de departamentos e comprar um mais barato com o corte universal, ou investir um pouco mais e comprar um bom terno, com corte certo para você e com alfaiate a disposição. Esta segunda opção seria representada pelo BMW Série 3, o 320i, para ser mais específico. A primeira poderia ser preenchida por qualquer sedã grande de marcas mais generalistas, como Altima, Fusion, Camry, Cadenza e Accord.
Antes de começar, devo esclarecer que este 320i não foi cedido pela BMW. É do responsável pelos ensaios fotográficos dos carros que avaliamos. Como não poderia ficar sem ser avaliado, dada a importância do modelo - que teve a primazia de combinar um motor flex (capaz de funcionar com álcool e gasolina em qualquer proporção) com turbo – demos nosso jeito. Sim, é um 320i ActiveFlex.
Tradição importa(da)
Esta sexta geração do 320i (codinome F30) chegou ao Brasil em 2012 carregando a responsabilidade de ser melhor que os anteriores – E90/E91/E92/E93 – comercializadas de 2004 a 2011. Redesenhado, o modelo tem visual mais agressivo e também aposta em alguns equipamentos para chamar atenção. A principal delas, sem dúvida, foi a utilização de motores turbo em todas as versões e a posterior adaptação para álcool. A produção nacional, a ser iniciada no final deste mês - a tempo da Oktoberfest -, é o passo final para o "abrasileiramento" do modelo.
O desenho do BMW Série 3 é, sem dúvidas, um dos maiores seus atrativos. Com carinha invocada, o modelo se apresenta reformulado por completo para se manter competitivo de diante de uma concorrência que não segue a tradição tão à risca. Não faltam os “angels eyes”, as argolas iluminadas nos faróis, e a linha de cintura marcante ajuda a impor a devida presença do carro. A traseira mantém layout com lanternas que invadem a tampa do porta-malas, dando a impressão de que ele é mais largo do que parece.
Por dentro o esquema é aquele do “Em time que está ganhando não se mexe”. O quadro de instrumentos é praticamente idêntico ao utilizado nos anos 90, e surpreendentemente continua belo, atual e, principalmente, funcional. A exceção fica para o console central, que recebeu a tela do sistema multimídia e que também faz a função de um computador de bordo mais completo, exibindo informações sobre o carro. Até porque a telinha pequena nos instrumentos – compartilhada com o Mini Cooper – não pode exibir muita coisa.
Sim, as linhas ajudam a deixar o Série 3 maior, mas ele realmente cresceu. Em relação ao modelo anterior, são 5 cm a mais só no entre eixos (2,81m contra 2,76m do anterior), o que garante mais conforto para os ocupantes. O comprimento também é maior, pulou de 4,53 m para 4,62m, mas altura e largura permaneceram quase inalteradas. O porta-malas cresceu em 20 litros – em virtude do aumento de comprimento do carro –, totalizando 480 litros. Poderia ser melhor aproveitado, não fosse os braços da tampa invadindo o espaço da bagagem e a abertura um tanto estreita. Curiosamente a bateria vai ali, sob o porta-malas, mas não o estepe, inexistente no modelo.
Hoje o BMW 320i Active Flex se divide em três pacotes – e isso não mudará com a nacionalização: o 320i, como o testado, o 320i GP e o 320i Sport GP. O motor e o câmbio são comuns às versões, que diferenciam entre si pelos opcionais e acabamentos. A versão testada não conta com sistema de navegação nem controle de cruzeiro ativo como as demais, e essa é uma das poucas – senão a única – crítica. É um carro de 134 mil sem navegador, que é opcional de quase 10 mil reais. A versão topo de linha é a Sport GP que, além do GPS, possui integração com smartphones e aplicativos pré-determinados, acabamento em alumínio e teto solar.
De entrada, mas não o básico
A versão testada é a de entrada do 320i, mas já vem com rodas aro 17”, ajuste elétrico dos bancos para passageiro e motorista (este com opção de duas memórias), volante em couro com comandos de som e telefone e ajuste em altura e profundidade, ar condicionado digital dual zone com saídas traseiras, controles de estabilidade e tração, seis airbags, ABS e EBD, vidros elétricos one-touch em todas as portas, chave presencial com partida por botão, faróis bi-xenon, sensor de estacionamento traseiro, kers e função start-stop. O carro é completo, só deve mesmo o navegador.
O motor é estrela. Se trata de um 2.0 TwinPower Turbo 4 cilindros com turbo TwinScroll, injeção direta e as tecnologias Valvetronic e duplo VANOS (abertura variável para válvulas de admissão e escape). O resultado são 184 cv de potência e 27,5 mkgf de torque, independente se o combustível vem da Bacia de Campos ou de um canavial no interior de São Paulo. Grande parte desse trabalho é auxiliado pelo excelente câmbio automático de oito marchas, fornecido pela também alemã ZF. Com trocas extremamente rápidas e suaves – que podem ser feitas em borboletas atrás do volante -, a caixa contribui para um excelente aproveitamento da potência e uma otimização do consumo. E o melhor: a tração é traseira!
O conjunto de suspensão é extremamente bem acertado, mas sofre um pouco com buracos, que, segundo advertência do Ministério da Saúde, causam batidas secas. Agora explico: não há estepe pois os pneus são runflat – que rodam por algum tempo até que seja possível trocá-los – medida 225/50.
Há dúvidas de que esse conjunto é melhor do que o de qualquer sedã oriental com motor 2.4 ou 2.5 com tração dianteira e que custa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil a menos?
Quando mais realmente é mais
Por Fabio Perrotta Junior
Este BMW 320i ActiveFlex entrou no lugar de um raro Hyundai Ix35 manual 2011. Fui um dos primeiros a bater o pé e procurar diversas outras opções antes do BMW, quando a troca começou a ser cogitada - mesmo sem nunca ter entrado ou andado. Achava que não valia o que cobrava: pelo seu preço seria possível comprar algo maior e com mais equipamentos, como o Nissan Altima que avaliamos, e isso me deixava com o pé atrás.
A dúvida se acabou no primeiro encontro. Foi paixão à primeira vista. O acabamento impecável, a qualidade dos materiais, o acerto do carro, todo o capricho colocado ali faz valer o faz diferença. O isolamento acústico é incrível e isola o carro da maioria dos ruídos externos. Ouvir o motor do carro se torna tarefa difícil quando os vidros são fechados.
Você ainda controla a personalidade do 320i melhor que antidepressivos em três modos pré-configurados. Em “ECO PRO”, todos os periféricos se voltam para a economia de combustível, do ar-condicionado ao acelerador – que fica mais lento -, todos se voltam para a economia de combustível. Até surge a opção de velejar e, caso o motorista concorde, deixa o carro mais "solto", como se estivesse em ponto morto, fazendo com que as acelerações sejam ainda mais raras. O kers funciona neste modo ajudando o sistema a utilizar a energia recuperada durante a frenagem nos periféricos do carros.
O modo Comfort é indicado para o uso na cidade, programando o carro para funcionar no trânsito comum. Trocas de marchas em baixa rotação, start-stop ativado e condução normal. Start-stop que merece uma observação pelo seu funcionamento: integrado aos componentes do carro, só entra em funcionamento se todas as variáveis – como temperatura da cabine e carga de bateria - estiverem em perfeito estado.
Mas nenhum transforma tanto o carro quando o modo Sport. Resposta imediata do acelerador, trocas de marcha em alta rotação e extremamente rápidas deixam o carro com pique de esportivo. A tração traseira ajuda nessa sensação. Há também a opção de desligar o controle de tração no console para aumentar a diversão, mas haja “cojones” para fazer isso em vias públicas...
O espaço dianteiro é excelente, mas o traseiro - apesar dos 2,80m de entre-eixos – não. É apertado. O quinto passageiro conta com cinto de três pontos, mas sofre com o túnel central quase tão alto quanto o assento, culá do eixo que envia a força pro eixo traseiro.
O ponto forte do 320i é, sem dúvida, seu acerto dinâmico. O motor turbo flex, acoplado ao câmbio automático de oito marchas e da suspensão do tipo McPherson na dianteira e multibraço na traseira fazem com que o sedã tem um comportamento exemplar tanto na cidade quando em estradas.
O BMW 320i Active Flex é uma opção que deve ser considerada para por quem procura um sedã premium, bem acertado e com tecnologia de sobra. Hoje parte dos R$ 133.950 e não deve ter alteração de preço após o início da produção em Santa Catarina. Caso o valor não seja problema, leve a versão com pacote GP que parte dos R$ 143.950 que acompanha o GPS e os outros apps que se conectam ao seu smartphone. No fim das contas a diferença não é tão é pequena, mas compensa pela conectividade, que hoje é essencial.
Isso, claro, se você o encontrar em alguma concessionária, visto que o modelo se multiplica nas ruas a cada dia... Faz lembrar o sucesso do clássico E36, que esteve em produção até 1998.
Galeria
Fotos | Fabio Perrotta Fotografia
O que ouvir nesse carro?
A partir e agora tentaremos resumir as sensações transmitidas pelos carros avaliados em uma lista com cinco músicas. Para o 320i A lista é a seguinte: