Citroën C3 Tendance automático 2015 revela trunfos e vícios
Para-brisas enorme e silêncio ao rodar agradam, mas câmbio é ponto fraco
Franceses são excêntricos, ao menos no que diz respeito aos automóveis. Não apenas pelo design por vezes incomum, mas por não terem medo de inovar. A Citroën, por exemplo, já fez uso de volantes de cubo fixo ou com apenas um raio, suspensão hidropneumática, perfume no sistema de ar-condicionado e instrumentos digitais. Pena que boa parte dessa vontade de inovar se perdeu com os anos, mas o C3 Tendance ainda guarda alguma herança nestes aspectos.
Tudo bem que ele é um compacto e, por isso, o orçamento de seu projeto era consideravelmente mais modesto. Mesmo assim nota-se certos cuidados e preocupações que não se vê em outros carros do segmento. E a grande maioria delas estão voltadas para os sentidos.
Tudo começa quando você abre a porta do motorista e repara nos bancos com forração bem elaborada, na grande quantidade de elementos prateados espalhados pelo interior – que depois você notará que realmente são de metal – e nos elementos dispostos de forma simétrica no painel. A tela de sete polegadas no topo do painel, que não se move, é um caso à parte.
Mas, o que realmente chama atenção quando você se senta ao volante é o grande para-brisas, chamado Zenith e que é de série a partir desta versão intermediária. Ele aumenta o ângulo de visão em 80 graus, e forma um bom trio com as janelas espias laterais. Você se sente em um helicóptero, mas ao invés de um manche, tem nas mãos um volante de boa empunhadura com regulagem de altura e até de profundidade. Mas, pasmem, não há regulagem de altura para o cinto de segurança.
Enquanto teto-solar é algo absolutamente inútil no Brasil, o Zenith é capaz de deixar os passeios mais interessantes Você pode admirar o céu, a lua e ainda consegue enxergar os semáforos – que no Rio de Janeiro ficam em cima da faixa de pedestres – sem a necessidade de abaixar o pescoço. Tá muito sol? Basta puxar uma espécie de "forro de teto retrátil", onde ficam alojados os parassóis – estes sem espelhos. Nenhum compacto nem hatch médio tem algo parecido.
Engana bem
O grande para-brisa e o painel bem vertical, que garante ao carona espaço exagerado para os joelhos apenas disfarçam o reduzido espaço traseiro. Aquela sensação de amplitude dos bancos dianteiros não se repetem atrás, onde se comemora qualquer centímetro que suas pernas conseguem ao afundar do encosto do banco dianteiro. Culpa do entre eixos de 2,46m, inseridos em um comprimento de 3,94m.
É verdade que três pessoas com pernas curtas viajariam ali com conforto, sem aperto para os ombros, já que o C3 até aproveita bem seus 1,70m de largura. Os três terão até mesmo encosto de cabeça e cinto de três pontos garantidos. O pecado é não ter sistema Isofix de fixação de cadeirinhas.
Com 300L, o porta-malas do C3 revela-se um pouco acima da média do segmento.
Para o entretenimento de todos, resta o sistema MyWay – a tal telinha de 7 polegadas no topo do painel. Sem comandos sensíveis ao torque, funções de navegador e de áudio – inclusive Bluetooth – são operados por comandos giratórios e botões pouco intuitivos instalados no próprio rádio, em baixo do ar-condicionado. Mantendo a origem francesa, não há comandos de som no volante, eles ficam numa haste própria atrás do mesmo.
Chega de “faz de conta”
Na linha 2015 todos os C3 com câmbio manual ficaram com o motor 1.5 8V de 93cv. Para os automáticos, como este C3 Tendance, fica a exclusividade sobre o motor 1.6 16v VTI que produz 115cv (6000rpm) e 15,5kgfm de torque máximo (4000rpm) com gasolina e 122cv (5800rpm) e 16,4kgfm de torque (4000rpm) com álcool. Nesta versão o francês fabricado em Porto Real (RJ) abre mão do tanquinho de partida a frio com o sistema "Flex Start", capaz de aquecer o combustível antes de dar partida.
Assim como os Peugeot 308 e 408, o Citroën C4 Lounge já se livrou da maldição do câmbio automático de quatro marchas em detrimento a uma nova de seis. Os compactos 208 e C3 ainda se sacrificam. São poucas marchas que não conseguem aproveitar todo o motor – sempre convincente com câmbio manual. Pra piorar ele se mostra confuso em situações de retomada e em subidas de ladeira, e até mesmo em trânsito lento, quando não sabe se estica mais um pouco a primeira marcha ou passa logo para a segunda. Ao menos há borboletas atrás do volante para trocas sequenciais, que podem ser operadas mesmo em modo "Drive" para corrigir as trapalhadas do câmbio.
Na prática, a 120km/h, o motor do C3 trabalha às margens dos 3500rpm. É aí que o Citroën C3 revela um de seus maiores trunfos: o silêncio da cabine mesmo em alta velocidade, melhor do que uma dúzia de médios que custam 20 ou 30 mil reais mais caros. E como o motor permanece próximo ao seu giro de torque máximo, ele permanece sempre alerta, como um pastor-de-beauce.
Mas esforços são cobrados, e na forma de consumo de combustível. Com 1182kg nas costas o motor, sempre com álcool, crava 7km/l na cidade e 8km/l na estrada. A diferença mínima entre as duas circunstâncias é, novamente, culpa da transmissão.
A suspensão do C3 tem acerto um tanto molenga, que privilegia o conforto. Em trechos sinuosos de estrada ele obriga o motorista a maneirar na tocada para evitar que a dianteira escape – subesterço. Mas ao passar por alguns buracos o resultado pode batidas secas na ser batidas secas na suspensão dianteira. Enquanto isso, a direção com assistência elétrica do C3 proporciona manobras fáceis e endurece bastante, de forma descaradamente artificial e dissimulada, acima dos 80km/h.
Na ponta do lápis
Para uma versão intermediária, a Tendance é bastante honesta. Já conta com ar-condicionado, airbag duplo, freios ABS com EBD, direção com assistência, computador de bordo, trio elétrico, desembaçador do vidro traseiro, sistema de navegação, faróis de neblina e luzes diurnas de LEDs, além de e rodas de liga leve aro 15”. A versão seguinte, Exclusive, oferece ainda sensor de estacionamento traseiro, bancos e volante em couro, piloto automático, ar-condicionado digital, sensores de chuva e luminosidade, entre outros equipamentos menos importantes.
Pelos R$ 5.500 que os separam, o Citroën C3 mostra-se mais interessante nesta versão Tendance 1.6 Automática, que custa R$ 49.990. O C3 Exclusive exige R$ 55.490 de fiança antes de sair da concessionária e entrar na sua garagem.
Na atual conjuntura do mercado – que nos assusta a cada dia mais – o preço do Tendance até soa interessante para um 1.6 automático. É uma comprar racional para uma família com filhos pequenos. Duro é lembrar do comportamento do câmbio na cidade. Quando isso acontece, a vontade é a de retirar o para-brisas e todos os isolantes acústicos e adaptar em algum outro hatch. São dois trunfos do C3, assim como sua disposição forçada na estrada, pena que o consumo não colabora.
Galeria
Fotos | Fabio Perrotta
Citroën C3 Tendance 1.6 AT
ORIGEM: Brasil
PREÇO: R$ 49.990
MOTOR: flex, quatro cilindros, 16v, 1.587cm³, potência de 115cv a 6.000rpm com álcool e de 122cv a 5.800rpm (etanol) e torques máximos de 15,5kgfm (gasolina) e de 16,4kgfm (etanol) a 4.000rpm
TRANSMISSÃO: câmbio automática de quatro marchas.Tração dianteira
SUSPENSÕES: McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
FREIOS E PNEUS: discos dianteiros e tambores traseiros; 195/55 R15
DIMENSÕES E PESO: 3,94m (compr.), 2,46m (e.e.) e 1.202 quilos
PORTA-MALAS: 300 litros
TANQUE: 55 litros
DESEMPENHO: 0-100km/h em 11,4s e máxima de 199km/h (com álcool - dados da Citroën)