Lexus – A saga do meu Fusquinha #1

O que acontece depois que você ganha um Fusca no café da manhã?

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Era uma manhã de domingo. Eu poderia ligar a TV para saber o preço da arroba do boi gordo, mas resolvi tomar café com meus avós. Nem mesmo com eles o assunto na mesa deixa de ser carro, e aí meu avô se pronuncia com certa empáfia:

- Não vou mais renovar minha carteira e vou vender o carro.

Eu me espanto, e minha avó mais ainda.

- O que? Não, o senhor tem esse Fusca há anos, ele não pode sair da família assim!

- O carro está estragando na garagem, eu já não uso ele..

- Me dá ele! Por favor!

- Tá bom, é seu. Agora tem que pôr ele em ordem para colocar no seu nome.

Foi um diálogo rápido. Logo o “Seu Ilídio” me deu todos os documentos do carro desde 1985 até 2009, ano de sua última vistoria. Aquele Volkswagen Sedan 1300 1973 azul, na família desde 1976, agora era meu, meu primeiro carro. Imediatamente batizado de Lexus, por causa das letras “LFA” de sua placa, aquele Fusquinha de quatro décadas via ali o início de uma nova fase. O objetivo agora é deixá-lo novamente apresentável e seguro para ser estacionado na porta das escolas.

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Antes daquele carro, Ilídio tivera apenas um Ford Corcel I, ou seja, um Renault. Conta-se que aquele carro só ficou bom pouco antes de ser vendido. O Lexus foi comprado logo, de um vizinho que àquela altura  tinha uma loja de carros usados. Com apenas 3 anos de uso vividos aos cuidados de uma senhora. Estava em muito bom estado e era confiável, e terminou sendo o escolhido. “Era o que dava pra comprar”, conta meu avô.

Dali em diante este carro seria o meio de transporte da família. E serviu bem, considerando todas as limitações do projeto de um carro desenvolvido na década de 30. Ele foi trabalhar, viajar, levar as crianças na escola, no médico, na faculdade… Quebrou muitas vezes, das mais diversas formas e foi batido três vezes – até onde sei – e uma destas, em especial, conto abaixo. Este carro sofreu bastante nos seus 40 anos de vida. Nunca seria o carro ideal para uma reforma não fosse pela importância histórica que ele tem, ao menos para a minha família.

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1536460_3784942438229_1274695083_nÉ interessante olhar para trás e lembrar que no início de 2012 tentei comprar este Fusca para reformar a tempo de usá-lo carro nas Bodas de Ouro dos meus avós. Seu Ilídio foi irredutível: “Você está acostumado com carros modernos, não vai querer ele”. Ledo engano…

Eu ganhei o Lexus em julho passado. De brinde, vieram volante Cougar de raio pequeno, bancos de Chevette com capa (eca!), um retrovisor esquerdo genérico e pomo do câmbio da Porsche que, me desculpem, manterei, assim como as lanternas de Fuscão. Ao menos meu avô – leitor assíduo deste blog, diga-se - manteve as rodas de 5 furos, assim como o gerador e o sistema de ignição original.
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Nas semanas seguintes após assumir a responsabilidade sobre o carro, me importei em deixá-lo apto para umas voltinhas quando tivesse tempo livre, ainda que com cara de aspirante a hoodride. Logo verificaria todos os sistemas vitais do carro e começaria o garimpo de peças em auto-peças normais, sem ter que apelar para especialistas em carros antigos.

Hoje o Lexus se encontra com 70% do serviço de pintura feito - sendo que esta etapa deveria ter ficado pronta no Carnaval. Contarei tudo que aconteceu com ele até chegar aqui nas próximas semanas e, considerando a preguiça do pintor, quando a pintura estiver pronta vocês já saberão o que descobri sob a antiga pintura do Lexus…
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Meu pai ainda pergunta se meu avô realmente gosta de mim.

Na próxima semana eu conto o que aconteceu depois que foram trocados o cilindro mestre de freio e todos os burrinhos e lonas. Até lá!


O caso Castor de Andrade

Estava regulando a tampa do motor do Fusca quando meu avô me diz que esta tampa já não é a original do carro. Certa noite de sexta-feira, no final dos anos 70, a família havia ido a um restaurante. Teria show de Tom e Dito.

E não é que um funcionário do Castor de Andrade, o mais poderoso e famoso bicheiro do Brasil, pegou em cheio a traseira do Fusca, estacionado, e ainda sobrou para mais três carros que estavam na frente. E foi Andrade quem pagou o conserto.

Conta Seu Ilídio que quando Andrade foi ver os carros envolvidos na oficina, bradou: – Dessa vez eu pego esse cara! Não foi a primeira vez que ele aprontou. Naquele dia este funcionário teria levado o carro para receber um trato, pois no dia seguinte seria usado num casamento.

E parece que Castor de Andrade gostava de carros. Tanto, que foi preso enquanto visitava o Salão do Automóvel de São Paulo, em 1994…

Por causa da colisão, o berço do motor também chegou a ser trocado. Os paralamas traseiros foram recuperados, mas poucos anos depois deram lugar a dois novos da marca Zito Pereira, que sobrevivem até hoje.

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