Eunos Cosmo – Um devaneio tecnológico japonês
Em uma era de pujança financeira, a Mazda fez do Cosmo seu estandarte tecnológico para o mercado nipônico
No final dos anos 80, a saúde financeira do Japão provava de uma pujança econômica nunca vista antes por lá, após um constante crescimento desde a Segunda Guerra Mundial. A fim de se mostrar tão saudável quanto o mercado interno nipônico e também lucrar com os enormes gastos japoneses, a Mazda criou uma submarca denominada Eunos para a venda de veículos voltados para a experiência da condução, mas com luxo e refinamento. Em paralelo foram criadas também a Efini, para veículos luxuosos e mais clássicos, e a Autozan, para produtos tradicionais da Mazda. Interessante ressaltar que a Eunos também vendia produtos Citroen na terra do sol nascente!
O Eunos Cosmo era o produto de topo de toda a gama Eunos. Anteriormente, existiram 3 gerações do Cosmo que foram vendidos como Mazda e, sob essa insígnia, foram vendidos tanto no Japão quanto em mercados diversos. Entretanto, como produto da Eunos, a quarta geração do Cosmo pretendia ser um produto revolucionário. Levemente baseado no conceito MX-03, de 1985, sua produção se iniciou em 1990 sobre a nova plataforma JC. Até hoje, é o único Mazda usar um motor Wankel (tradicional da marca japonesa) com três rotores.
O carro era um cupê 2+2 e foi carregado com diversos equipamentos inéditos. Seguindo a sua temática luxuosa, apenas uma transmissão automática controlada eletronicamente de 4 velocidades estava disponível. Dois motores estavam disponíveis: o biturbo 13B-RE e o 20B-REW. O 20B de rotor triplo tinha 2,0 litros (1962 cm³) de deslocamento, tornando-se também o motor rotativo de maior capacidade oferecido para venda pela Mazda. Ele produzia 300 cv de potência (280 cv declarados, por força legal no Japão) e 402 N·m de torque.
O Eunos Cosmo também carregou consigo o pioneirismo em alguns itens na história do automóvel. Seus dois motores foram os primeiros motores Wankel de produção em série equipados com duplo turbo sequencial. O carro mais conhecido pelo uso do Wankel, o RX-7 da série FD (também da Mazda) não recebeu o biturbo sequencial no motor 13B-REW até o início de 1992. Além disso, foi o primeiro carro de produção em todo o mundo a oferecer a opção de GPS!
De quebra, também foi pioneiro no Japão na utilização do "Palmnet" para comunicação serial com a ECU do veículo. Para o usuário, era oferecido o então revolucionário Car Control System, que era uma tela touch screen colorida que permitia controlar a temperatura do ar condicionado, telefone celular, GPS, TV, rádio e CD Player. Na época, nem mesmo os mais modernos carros ocidentais permitiam tamanha integração tecnológica em um veículo, sequer ofereciam tantos equipamentos de conveniência.
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Suas dimensões internas e externas eram avantajadas, o que conferia porte exterior e conforto para motorista e passageiros. Com 4,815 metros de comprimento, 1,795 metros de largura, entre-eixos de 2,75 metros e peso de 1.640 kg, não era exatamente um carro compacto, ainda mais para o mercado nipônico e seus icônicos kei-cars.
Em termos de desempenho, o Cosmo tinha a velocidade máxima limitada a 180 km/h para atender os regulamentos japoneses. Entretanto, se retirado o limitador (procedimento habitual e sem complicações, inclusive com manuais de fábrica para isso), a versão com o motor maior alcançava os 255 km/h. Com mais de 380 N·m de torque disponíveis a apenas 1.800 rpm, o Cosmo tinha retomadas excelentes a despeito de seu peso elevado. No entanto, isso se deu às custas do consumo de combustível elevado que acompanhou os motores Wankel por toda a vida.
O Eunos Cosmo era um carro caro, mesmo para os padrões atuais. Como parâmetro, a Mazda ainda não tem nada cujo preço se iguale ao valor do Eunos quando novo na sua gama de veículos do Japão, mesmo após 24 anos de ação inflacionária!
O Cosmo foi fabricado desde fevereiro de 1990 até setembro de 1995, sendo vendido um total de 8.875 veículos, dos quais 40% saíram com o motor 2.0 com três rotores. Embora o Cosmo tenha sido vendido apenas no mercado japonês, algumas unidades chegaram pelas mãos de importadores independentes a países com trânsito de mão inglesa como o Japão. Com o fim da marca Eunos em meados de 1995 e o começo do declínio financeiro da Mazda, também teve fim a história de um dos coupês mais modernos da história do mercado japonês.