Ministro da Fazenda confirma intenção de adiar obrigatoriedade de airbags e freios ABS
Impasse não define se demanda partiu de sindicato ou das montadoras
Guido Mantega confirmou nessa quarta (11) a intenção do Governo de adiar a Lei que obriga as montadoras nacionais a equiparem os veículos vendidos no país com airbag duplo e freios ABS. Ontem noticiamos os primeiros relatos, advindos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. O secretário-geral do sindicato justificava a suposta medida provisória do governo pela demissão em massa que ocorreria, por exemplo, com o fim da produção da Kombi, cuja produção é pouco robotizada. Porém, a justificativa do Ministro foi ligeiramente diferente.
Para Mantega, a preocupação que encorajou o governo a estudar o adiamento é a elevação dos preços dos carros mais populares, que sofreriam um reajuste de R$ 1 mil a R$ 1.500. Mantega provavelmente se preocupa com o reajuste no segmento, que é o que mais vende no país, tendo em vista as metas de crescimento do PIB brasileiro, considerando que a indústria automobilística influencia drasticamente no desempenho da economia. Caso aprovado o adiamento, os equipamentos seriam obrigatórios a partir de Janeiro de 2016.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, Rafael Marques, entretanto, afirmou que o sindicato teve sim a intenção de levar a questão das demissões para o governo, mas que ao chegar aos representantes federais descobriu que Fiat e Volkswagen já haviam se mobilizado para deliberar o adiamento. Marques também afirmou que a presidente Dilma Rousseff tomou conhecimento do caso através do Ministro da Indústria, Fernando Pimentel, e direcionou a resolução diretamente para Guido Mantega, o que evidencia o caráter econômico da situação.
A ANFAVEA não aprovou nem se opôs à possível medida provisória defendida pelo Ministro, mas garante que a iniciativa partiu do sindicato. Fiat e Volkswagen se pronunciaram hoje, afirmando que respeitarão as Leis definidas pelo Governo Federal. Ou seja, nada contribuíram para o suspense que paira à realidade do mercado caso a medida provisória seja de fato sancionada.
A Kombi, alvo da deliberação clamada pelos sindicalistas, já teve a versão especial Last Edition produzida com cada uma das unidades custando R$ 85 mil e teve uma larga publicidade almejando o fim de sua produção nesse ano. O Mille já teve sua edição de despedida Grazie, Mille anunciada, mas seus preços não são tão estratosféricos – e a versão nem tão exclusiva. É improvável que a Volkswagen volte atrás, a não ser que reinvente a Kombi de tal maneira que justifique a Last Edition (o que é ainda mais improvável), mas é possível que a Fiat prolongue a estadia do Mille. O novo popular da marca ainda está em fase de desenvolvimento, e seu substituto seria o Palio Fire em caráter provisório.
Outra marca que talvez se contente com a zona de conforto será a Renault, que inexplicavelmente lançou o Clio reestilizado no final de 2012 sem sequer oferecer airbag duplo e freios ABS como opcionais, enquanto essa mesma geração era oferecida com esses equipamentos de série 10 anos atrás. A Ford lançará o novo Ka em breve (dessa vez equipado com ABS) e a Chevrolet já oferece airbags no Celta, mesmo que como opcional. Em suma, dentro dos segmentos populares, com exceção do Mille, não há um exemplo de modelo que seja severamente afetado pela Lei, em relação ao preço, inclusive considerando possíveis substitutos.
É difícil acreditar que mesmo no segmento de entrada esse acréscimo no preço - se de fato ocorrer de maneira predominante – vá afetar as vendas, em um mercado onde segmentos superiores tem tido crescimento nas suas vendas (como no caso do Onix, que roubou vendas tanto do Agile, tecnicamente superior, quanto do Celta, deveras inferior). De fato, sob um olhar externo, não há outra explicação senão uma pressão feita pelas montadoras. Ou, o mais provável, mais um delírio infundado da já desastrosa atuação de Mantega no cargo de ministro da Fazenda.
Seja como for, o Brasil mais uma vez é passado pra trás. Estamos lidando com uma questão de segurança pública. Quantas mortes poderão ser evitadas em dois anos com a obrigatoriedade desses itens de segurança? Só em 2012 foram 60 mil mortes no trânsito. Enquanto a mesma Lei é obrigatória nos países desenvolvidos há mais de vinte anos e a Argentina, nosso país vizinho, já estuda exigir o ESP em 2018, a impressão é que ainda estamos no maternal. Da era das cavernas.
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