Governo deve estender prazo da Lei que obriga airbags e freios ABS no país
Medida provisória poderia estender vida de Kombi e do velho Uno
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista (região tradicionalmente industrial do estado de São Paulo) anunciou em assembleia na tarde de hoje (10) que o Governo Federal deverá estender o prazo que obriga das montadoras a equiparem todos os veículos do país com freios ABS e airbags. A justificativa, segundo Wagner Santana, secretário-geral do Sindicato, é que casos como o da Volkswagen - que irá encerrar a produção da Kombi e Gol G4 - poderá acarretar em demissões. Mas será que as montadoras irão postergar a medida?
Para Wagner, a Kombi é um produto sem concorrentes e que fará falta do mercado. Além disso, não é segredo para ninguém que o projeto da van em produção há 56 anos é muito obsoleto. Por isso, a produção quase não é robotizada, e o fim da produção acarretará no excedente de funcionários e, em consequência, demissões, apesar da fábrica também produzir outros modelos, como Gol (G4 e G5), Voyage, Saveiro, Polo e Polo Sedan.
O secretário-geral, entretanto, em sua argumentação na entrevista para a Tribuna Metalúrgica, alegou que o Gol G4 poderia ter seu problema solucionado substituindo-o pelo novo Gol ou um modelo mais moderno, aparentemente ignorando o “fator Up!”, substituto natural do G4, que já está pronto para o lançamento em janeiro, com comerciais sendo gravados.
O site ainda afirma que essa proposta, entregue pessoalmente à presidente Dilma Rousseff, permitirá que veículos de todas as fabricantes fiquem em linha até janeiro de 2016. Para o Sindicato, isso garante que 4 mil funcionários só na Volkswagen não sejam demitidos, caso não fossem realocados em outras funções (o que não é esclarecido) e, de quebra, permitiria que Kombi e outros modelos fossem adaptados para a Lei. Em outras palavras, dar mais tempo para que modelos obsoletos sejam adaptados. Para compensar, haveria uma porcentagem gradativa de adesão à Lei. Hoje, segundo o secretário-geral, 60% do mercado é equipado com airbags. Em 2014, seriam 70% e, em 2015, o índice seria ainda maior.
Porém, o fato é que esse percentual já existe, e vinha sendo cumprido levando em contra ao prazo limite de 31 de dezembro de 2013. O sindicato errou em não levar a questão para o âmbito federal antes, já que as normas do Contran estão correndo desde 2009. Faltam três semanas para que esses modelos, de acordo com a Lei, saiam efetivamente de linha. Mesmo que a medida provisória seja levada pela frente pelo governo Dilma, a medida não deverá surtir o efeito desejado.
A principal razão é que as fabricantes e seus fornecedores se planejaram para o fim da produção de tais modelos. A Volkwagen, por exemplo, pivô da polêmica levantada pelo sindicalista, já produziu 1200 unidades da série especial Last Edition, que marca o fim da Kombi, lançado por aqui em 1953. A versão aposta em exclusividade e cada uma custa R$ 85.000. A continuidade na produção iria deslegitimar tal propósito. Além disso, houve o investimento em publicidade para o “deslançamento” do modelo, fatores que acabam por tornar praticamente irreversível o fim do monovolume. Além disso, o G4, já defasado e cujo mix de vendas é superado consideravelmente pela Geração 5 do Gol, já tem um substituto pronto para chegar às concessionárias, o Up!, conforme já mencionado.
Na Ford, a situação não muda muito. A nova geração do Ka será lançada até o segundo semestre do ano que vem, e aposentará tanto o Ford Ka (sem freios ABS) quanto o Fiesta Rocam (que acabou de ganhar airbags e ABS de fábrica). Na Chevrolet, Classic e Celta já contam com airbags pelo menos como opcional, e a tendência logística é que se tornem de série. Apenas na Fiat a MP do governo deve ser louvada.
Apesar da série especial Grazie, Mille já estar chegando às concessionárias, a marca poderia mantê-lo em linha junto com o futuro “Palio Mille”, considerando que ele não tem substituto pronto, ao contrário do Gol G4. Além disso, a série especial do Mille não tem o mesmo peso e exclusividade do que o da Kombi. Outro grupo que deve comemorar a medida é o das montadoras chinesas, cujos utilitários em sua maioria não contam com o equipamento nem aqui nem na China - com o perdão do trocadilho. Por fim, a situação não deverá passar de uma política meramente sindical. Na linha de produção, a realidade deverá ser outra.