Salvem os carros de duas portas!
Em 20 anos opção de duas portas ficou restrita a populares e carros de luxo
Nós, brasileiros, precisamos reaprender a gostar de carros com duas portas. Em algum momento da década de 90 todo e qualquer preconceito com carros quatro portas desenvolvido desde que os primeiros automóveis chegaram ao Brasil desapareceu, e logo a exceção virou regra. Hoje, encontrar um compacto ou um carro médio com duas portas na gama de alguma fabricante é tão difícil quanto era ver um de quatro portas na décadas de 60, 70 e 80.
Sorte de quem hoje tem um Passat, TL, Chevette, Maverick, Brasilia ou mesmo Voyage quatro portas. Se já não eram comuns em sua época, hoje menos ainda. O consumidor simplesmente não os queria, a ponto de serem menos valorizados que seus equivalentes de duas portas. Acusavam a maior facilidade para roubar o carro, afinal, não havia trava central. Já meu avô, que só teve carros duas portas, diz que os de quatro “tem duas portas a mais para dar problema”. Em suma, o problema era o medo.
Carros de quatro portas apenas eram aceitos entre os carros de luxo, como Opala, Del Rëy, Landau, Galaxie, JK e Dart. Mas ainda assim eles tinham versão de duas portas!
O mais curioso é que eram tempos exatamente opostos ao nosso.
Talvez tenha sido a comodidade que as quatro portas garantem, ou mesmo o surgimento das travas automáticas e do alarme, o que motivou sua popularização anos depois. Mas até isso acontecer…
Os anos 90 ainda teve casos peculiares, como a Ipanema quatro portas, Vitara de duas e quatro portas, a Parati G2 que só foi ter versão de quatro portas tardiamente, a dupla Logus e Pointer, na qual o sedã só era vendido com duas portas e o hatchcom quatro. Mas pelo menos naquela época os esportivos ainda seguiam os bons costumes, sendo vendidos apenas com duas portas – Pointer GTI é um caso a parte, claro. Mudanças já eram notadas, como na linha dos inovadores Corsa e Palio. Estes tinham versões de duas portas, mas seus derivados não.
A substituição de alguns modelos agravava a situação. Ao contrário do Escort, o Focus não tinha versão de duas portas no Brasil. Versões duas portas do Golf eram mais comuns quando era importado do México, mas ao se tornar nacional houve apenas a versão limitada VR6 com esta carroceria, fora duas unidades do GTI feitas sob encomenda. A Fiat chegou a cogitar a importação do Bravo (que na época era um Brava com duas portas), mas desistiu. A Chevrolet ao menos manteve o Astra com duas portas até 2008.
Hoje, nem mesmo os novo Palio possui versão de duas portas, e o novo Gol levou 5 anos para ter a sua. O Ka luta para manter os bons costumes sendo oferecido apenas com duas portas, mas já com os dias contados - e substituto terá apenas carroceria de quatro portas. O Renault Clio ainda mantém a opção de carroceria, assim como Celta, Gol, Fox, Palio Fire e Uno, mas este último apenas para a versão básica. Não é que a Fiat lançou o Uno Sporting com duas e quatro portas e um ano depois descontinuou a de duas portas? Carro de quatro portas não é esportivo! Uno Sporting 2p será carro de colecionador em 30 anos, anote aí!
Em algum lugar do passado esqueceram que carros de duas portas são mais leves, e, consequentemente, mais econômicos. Também são mais práticos para a grande maioria que quase sempre dirige sozinho ou com mais alguém do lado, tem acesso facilitado a pessoas de maior estatura pelas portas serem maiores, e, eventualmente, tem maior rigidez torciona. Os de duas portas também são mais bonitos, principalmente os cupês, hoje quase extintos no Brasil.
A questão realmente é: porque não oferecem as duas opções de carroceria e deixam o consumidor escolher? Essa você responde, caro leitor.