Encaramos o Suzuki Adventure com um Jimny
Jipinho goiano foi nosso companheiro em rali promovido pela Suzuki
À primeira vista o Suzuki Jimny pode parecer um carro ideal para quem procura um carro pequeno e alto para usar na cidade. E pode até ser, realmente. Mas fazer isso com o Jimny é o mesmo que criar um Pastor Alemão em apartamento: vai dar mais trabalho e precisar constantemente ir a um lugar amplo para correr e brincar. A diversão do Jimny é encarar obstáculos na terra, e no último final de semana tivemos a oportunidade de levar um Jimny para “brincar” em um rali de regularidade durante a quinta etapa do Suzuki Adventure, em Itaipava (RJ).
O evento, aberto a proprietários do Jimny, do Samurai e do Vitara 4x4 – Chevrolet Tracker não vale! – é dividido em três categorias: Fun, para novatos; PRO, para os pilotos e navegadores mais experientes. Os dois são ralis de regularidade. Ainda há a EXTREME, que é uma prova de obstáculos onde competem veículos bastante modificados. Os campeões desta temporada da categoria PRO ganharão uma viagem para Búzios, mas a maior vitória talvez seja a arrecadação de cobertores. Dois cobertores devem ser doados no dia do evento para efetivar a inscrição, e estes são destinados a instituições de caridade pelo programa "Suzuki pelo Bem". Em 2012 20 instituições repartiram os mais de 2 mil cobertores arrecadados.
Por nossa experiência nula em ralis, competimos pela categoria Fun: eu, Henrique, como piloto e o Fabio Perrotta Jr., que colabora em nossos testes, como navegador. Detalhe: seu estado não era o melhor após ter estado no Rock in Rio. Nosso veículo era um Jimny 4All, versão de entrada, que custa R$ 55.990, emprestado pela Suzuki.
O Jimny é pode até parecer franzino, mas é descendente de uma linhagem de pequenos jipes iniciada há mais de 40 anos no Japão, quando a Suzuki comprou a também japonesa Hope e os direitos do HopeStar ON360, um jipinho com motor dois tempos de 359 cm³, mas com tração 4x4. Ele foi praticamente o precursor de todos os 4x4 da Suzuki, e ainda hoje o Jimny, após 43 anos, oito fases e com 10 identidades ao redor do mundo, segue seus ensinamentos.
Pequeno (são 3,65 metros de comprimento, 1,60 m de largura e com 1,67 m de altura), o Suzuki Jimny pesa apenas 1.060 kg, o que torna o motor 1.3 16V VVT de 85 cv e 11,2 kgfm de torque suficiente para cumprir a promessa de ser um verdadeiro veículo off-road. Um detalhe interessante é que o motor está alocado no cofre em posição longitudinal, algo incomum em veículos pequenos, mas ideal para o funcionamento da tração 4x4. Esta, por sua vez opção de reduzida e que conta com sistema de roda livre pneumática, diferencial central incorporado à caixa de transferência e acionamento eletrônico. A transmissão manual de cinco marchas com relações curtas também contribui para um melhor aproveitamento do motor.
Por esse lado o Jimny é até bastante moderno, mas sua receita ainda é bastante simples com o objetivo de ser robusta ao máximo. Sua carroceria é montada sobre um chassi do tipo escada – como picapes médias e caminhões - e nos dois eixos a suspensão é composta por três braços de apoio (trilink) e um eixo rígido, além das molas e amortecedores. Não é a configuração mais confortável – algo que compromete o uso urbano -, mas é a mais rígida e robusta, o ideal para um veículo feito para o uso off-road.
A versão 4All tem o trivial, como ar condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos, rodas de liga leve aro 15″ na cor grafite e sistema de som inclui rádio AM/FM, CD player com MP3, WMA, USB e Bluetooth. Há cerca de duas semanas o modelo passou a contar com freios ABS e airbags, mas nosso carro foi montado meses atrás. Ainda assim, já era das unidades produzidas em Itumbiara (GO), em fábrica que opera desde novembro.
Estávamos, de fato, bem aparelhados, mas ainda havia muito chão pela frente. Partimos do Parque Municipal de Petrópolis com um livro de 54 páginas com instruções do percurso, que no total deveria ter 160 km. De lá nosso próximo destino era a BR 040, onde permaneceríamos por cerca de 30 km.
Encarar estrada com um Jimny requer um pouco de esforço do motorista e do motor. A grande área de contato com o ar compromete o conforto acústico da cabine – que é até bem isolada dos barulhos do motor - e a aerodinâmica do jipinho, que termina sofrendo um pouco para ganhar velocidade e quase sempre pede redução de marcha numa retomada. Seria como qualquer compacto 1.0 não fosse pela tração traseira - quando operando em 4x2 – , pelo entre eixos de apenas 2,25 metros e pelo centro de gravidade elevado. Então, é bom apreciar o volante com moderação nas curvas, ele não encoraja abusos.
Mas logo o Jimny chegaria em seu habitat. Tomamos uma entrada entre as cidades de Areal e Três Rios, passamos por um pequeno lugarejo cortado por uma linha férrea e logo estaríamos na terra. Era a hora de testar meu navegador, que ainda reclamava do desempenho do Bon Jovi no palco. Haviam tempos predefinidos para cumprir determinadas distâncias, e precisamos baixar um aplicativo de cronômetro ali na hora, antes de zerar o hodrômetro parcial e comer poeira – o carro, pois o ar-condicionado da cabine esteve sempre ligado.
Nós bem tentamos acompanhar à risca os tempos mas foi difícil. Nem eu estava entendendo as marcações, que provavelmente foram explicadas no briefing da noite anterior, que não participamos. Então tentamos a sorte voltando nossa atenção para marcações de distância e de velocidade média.
E foi obedecendo as instruções que seguimos nossa aventura, atravessando fazendas, pontes de madeira e contemplando paisagens, mas sem se distrair do percurso, o que poderia ser fatal; quase sempre estávamos entre barrancos e despenhadeiros. Para colaborar, por aquelas estradas estreitas mal passava o Jimny. Mas a dificuldade real do percurso se resumia a buracos, valetas e alguns aclives mais acentuados, mas o Jimny aguentaria coisa muito pior. Nem foi necessário ativa a tração reduzida…
O mais legal é a experiência de imersão em uma realidade completamente diferente da que estamos acostumados. Por estar em lugar desconhecido sem nem mesmo sinal de AM, seguindo folhas impressas em preto e branco, tudo se torna novidade. Ao passar por pessoas que vivem ali, buzinar e acenar é uma forma de saudar quem toma como cotidiano aquilo que você define como aventura.
Passarmos por uma bela cascata – que segundo o Google Maps pertence à cidade de Pequeri (MG) – , onde pudemos parar por alguns instantes e fazer algumas fotos. Seguimos nosso caminho e quilômetros à frente chegamos em uma cidade. Tão perdido, paro o carro para perguntar onde estávamos. Foi quando descobri que ali já era Minas Gerais, e a cidade simpática era Santana do Deserto, que viveu seus tempos áureos quando a região era tomada por fazendas de café.
Resolvemos parar mais uma vez. Estávamos em uma cidade, então talvez nossos celulares voltariam a funcionar e o GPS dissesse que já não estávamos em “lugar nenhum”. Foi em vão, mas foi neste momento que um casal em um Vitara nos abordou perguntando onde estávamos e em qual página do livro de instruções estávamos. Foi aí que percebemos que pelo menos em último lugar não ficaríamos.
Na saída da cidade havia uma rotatória com a bifurcação de duas estradas, uma que nos levaria a Juiz de Fora, e outra que terminaria em Levy Gasparian. Por não ter percebido a distância entre as duas instruções seguintes, o Fabio me instruiu a pegar a segunda saída. Tudo ia bem até a placa de “2 KM” demorar muito a aparecer. Esta foi a vez em que ficamos perdidos por mais tempo.
Voltamos mais embalados para tentar reaver o prejuízo, mas já não resolveria muito. Ao nos embrenhamos no mato novamente logo percebemos uma quantidade maior de porteiras e mata-burros. Havia mais fazendas nesta nova parte do rali. Era um lugar mais habitado, com belas fazendas de eucalipto, mas ainda com um horizonte vazio. Sedes de fazendas se tornariam mais constantes em seguida, sinalizando que ali já não era mais tão “nada”. Logo chegaríamos a Levy Gasparian (mesmo que o caminho que tomamos levasse à Juiz de Fora), onde retornaríamos para a BR 040 para percorrer mais alguns quilômetros até a pousada Caminho Real, em Itaipava, nosso ponto de chegada.
Ao pegar nossa parcial a grande surpresa: 209.130 pontos. Seria ótimo se não fossem pontos perdidos. Passamos por alguns pontos com quase 10 min de atraso após nos perdermos duas vezes. Esse resultado nos garantiu a 62° posição, num grid de 77 carros. Nossa sorte de principiante foi não ter chegado em último lugar… Pelo menos nos divertimos bastante, e o Jimny também.
PS: Segundo o Fabio, nossa equipe poderia ser comparada com a Marussia na F1. Discordo: ao menos nosso carro era bom!
Resultados - 5ª Etapa - Itaipava (RJ):
Categoria Pro
1º - Celso Macedo e Belém Macedo (Piracaia - SP)
2º - Waldir Hudson Barbosa e Maria Barbosa (Bragança Pta. - SP)
3º - José Paulo Junqueira e Marcelo Jucá (Juiz de Fora - MG)
4º - José Eduardo Guerra e Marcia Guerra (Uberlândia - MG)
5º - Paulo Theophilo Dias Filho e Priscila Argentin (São Paulo - SP)
Categoria Fun
1º - Carlos Cavenaghi e Pedro Cavenaghi (Osasco - SP)
2º - Vinícius Ferreira da Silva e Bernardo Ferreira da Silva (Petrópolis - RJ)
3º - Pedro Figoli e Valéria Duarte (São Paulo - SP)
4º - Bruno Viana e Cesar de Souza (Niteroi - RJ)
5ª - Mateus Costa e Robson Costa (São Paulo - SP)
62°- Henrique Rodriguez e Fábio Perrotta Jr. (Rio de Janeiro – RJ)
Prova de obstáculos Extreme
1º - Genildo de Alencar da Silva e Jeferson Gonsalves (Suzano - SP)
2º - Lionardo Almada e Josana Tostes (Juiz de Fora - MG)
3º - Wilson Carlos Werneck Fialho e Erika Fófano Werneck (Juiz de Fora - MG)
4º - Luiz Carlos Ferreira Gomes e Bárbara Arcoverde Gomes (Juiz de Fora - MG)
5º - Bruno Cipullo e Anderson Khoury (Mogi das Cruzes - SP)
Versões do Suzuki Jimny:
O Suzuki Jimny está disponível em quatro versões: o Jimny 4ALL, como o usado no rali, e os dealer options Jimny 4SUN, com teto solar panorâmico de lona (ragtop) que custa R$ 59.990, o Jimny 4SPORT com maiores ângulos de ataque e saída e espelhos e maçanetas pintados na cor grafite, volante revestido em couro, moldura do painel na cor do veículo, engates dianteiro, traseiro e bola, snorkel e rack de teto na cor grafite, e que custa R$ 61.990, e por fim o Jimny 4WORK, cujo preço depende das exigências e dos equipamentos solicitados por quem encomenda.
Fotos | Henrique Rodriguez e Fabio Perrotta Jr.