Avaliação – Honda Fit Twist é honesto por não ser o que parece
Aventureiro não teve alterações mecânicas, mas quem disse que precisa?
O Honda Fit Twist é um carro honesto em sua proposta. Se passa por um aventureiro, com roupagem off-road que inclui molduras nas caixas de roda, para-choque frontal que simula um quebra mato e protetores sob as portas na cor alumínio fosco, por exemplo, porém sem qualquer alteração mecânica. E quem precisa de suspensão elevada e pneus de uso misto para andar apenas na cidade?
Pra quê pneus que são consumidos mais rápido e suspensão mais alta? Para deixar o carro instável em alta velocidade? O Honda Fit é agradável do jeito que ele é, e toda a fantasia “Twist” apenas o faz mais jovem, tira dele o ar conservador, o aspecto de “carro de mãe”. Mas somos do contra, e mesmo assim resolvemos levar o Fit Twist para a terra.
Aqui no Novidades Automotivas acreditamos que qualquer automóvel faz o mesmo que um aventureiro, e este Honda comprova nossa teoria. As estradas de terra quase desertas que circundam a Lagoa de Maricá, na cidade de mesmo nome, no Rio de Janeiro serviram de palco para esta prova. Estradas estas levemente esburacadas e erodidas. E a suspensão do Twist se saiu até bem na função de amortecer impactos. O acerto rígido da suspensão - do tipo MC Pherson na frente e eixo de torção atrás- , que é bem notável na cidade, e as rodas de liga leve de aro 16” calçadas com pneus 185/55, nos fez esperar menos deste Fit, apesar de algumas pancadas secas vindas da dianteira.
Portanto, um Honda Fit LX – versão “civil” na qual o Twist é baseado – faz o mesmo. Logo, o Fit Twist é tão bom quanto na hora de fazer curvas. A carroceria inclina um pouco, mas sem insinuar qualquer desvio de trajetória. A direção com assistência elétrica (EPS), por ser progressiva na medida certa; leve em manobras e firme em alta velocidade, também tem papel crucial nesta boa impressão transmitida ao motorista.
Hoje versão intermediária, o Fit Twist é vendido apenas com o motor 1.5 16V i-VTEC (comando de válvulas variável) com de 115/116 cv de potência a 6.000 rpm e 14,8 kgfm de torque a 4.800 rpm. Na medida certa para o carro, não demonstra falta de fôlego em baixas rotações, mas é perceptível uma melhora no rendimento conforme se aproxima dos 4.000 rpm. E ele se dá bem com rotações mais altas, se mostrando um motor de funcionamento bastante suave. E tem consumo moderado: média de 8,9 km/l em percurso urbano e 12,1 km/l na estrada, sempre com gasolina.
E vale dizer que a unidade avaliada contava com câmbio automático, de cinco velocidades, que trabalha harmonicamente com o motor. A transmissão trabalha sem trancos ou desconfortos, com trocas suaves, quase imperceptíveis quando ocorrem em baixa rotação. Sem contar que o sistema não demonstra indecisão e interpreta perfeitamente quando o motor é exigido, fazendo trocas com o giro mais alto. O sistema Shift Hold Control, que usa sensores para selecionar automaticamente a marcha mais adequada para a situação, pode ter culpa nisso. Mas quem gosta de fazer trocas manuais sentirá falta desta opção – as borboletas atrás do volante ficam restritas à versão topo de linha EX.
Com os detalhes estéticos o Fit Twist ficou discretamente maior, ganhando 3,0 centímetros no comprimento, 2,0 cm na largura e 3,5 cm na altura. Ainda assim, os 3.93 m de comprimento, 1.71 m de largura e 1.57 de altura ainda fazem dele um compacto. A questão é que por dentro não parece. O aproveitamento interno exemplar revelam que um dia este Fit teve proposta familiar.
Por dentro as únicas novidades são o novo revestimento dos bancos e o revestimento impermeável no porta-malas – até mesmo na parte de trás do banco, que é bipartido -, que ainda esconde um porta-objetos posicionado acima do estepe. Aliás, o que não falta no Fit é porta-objetos. Há inúmeros, e bem posicionados, como o porta-garrafas na frente das saídas de ar laterais, e o porta-luvas duplo.
E ele não deve capricho no acabamento. Com um bom japonês, tem encaixes precisos e bem montados, sem irregularidades ou rebarbas. Mas não é nada muito luxuoso. Os plásticos tem diferentes texturas e tons, mas são rígidos. Pecados são os parafusos à mostra nas maçanetas internas, algo também percebido em outro japonês, o Toyota Etios.
Não tem como não se acomodar bem ao volante do Honda Fit. O assento acomoda muito bem a coluna e as pernas, e para o motorista há regulagem de altura. Já o volante tem regulagem de altura e profundidade. Os pedais estão bem posicionados e os comandos no centro do painel estão todos ao alcance do motorista. Ainda assim seria interessante comandos do som no volante, assim como os do piloto automático – que a versão não possui. Esses dois ficam restritos à versão topo de linha EX.
Os 2.50 m de entre eixos são responsáveis pelo espaço confortável para os passageiros do banco de trás. O quinto passageiro não pode nem mesmo questionar a ausência do cinto de três pontos nem do encosto de cabeça. O encosto do banco traseiro ainda pode ficar em posição mais vertical para ampliar o porta-malas.
Não há muito o que reclamar do pacote de equipamentos. Sem opcionais, seguindo a tradição da Honda de oferecer pacotes fechados, o Twist tem rodas de liga leve aro 16”, ar-condicionado manual, computador de bordo, alarme, travas e retrovisores elétricos, freios ABS com EBD, airbag duplo, chave com telecomando e CD player com leitor MP3 e entrada USB – que bem deveria ter Bluetooth e comandos no volante. Os vidros das quatro portas têm comandos elétricos, que não se fecham ao ativar as travas e só o do motorista dispõe tem função “um toque” – algo comum em carros japoneses. O que não tem justificativa é o sistema anti-esmagamento apenas para o motorista, que dificilmente correria risco de ter algum membro esmagado, ao contrário de uma criança.
Pelo preço, de R$ 60.990 na versão avaliada (R$ 57.990 o manual), o Honda Fit Twist ainda deve mimos, como sensores crepuscular, de chuva e estacionamento, faróis e limpadores, sensores de estacionamento e volante multifuncional.
Boa parte destas faltas não existem na versão EX, oferecida apenas com câmbio automático e que custa R$ 62.990. É… Apesar de honesto o Honda Fit Twist cobra o preço de sua ousadia.
Fotos | Fabio Perrotta, Henrique Rodriguez