Porra, por que não produziram!? – Shelby GR1
Esportivo poderia ter sucedido o Ford GT, mas não passou da fase de conceito
Uma das coisas mais comuns no mundo dos automóveis, os carros-conceito servem para expor novas tecnologias, mostrar o potencial de uma marca ou, em alguns casos, simplesmente mostrar o que está por vir dentro do line-up da montadora. A Mercedes-Benz, por exemplo, quando lança um conceito com o nome “Vision”, é quase certeza de que será produzido, como foi com os Vision SLR e Vision CLS, e quase sempre vêm com poucas e pontuais mudanças em relação à versão conceitual.
Mas, para a tristeza de muitos entusiastas, alguns carros-conceito além de belíssimos, são totalmente viáveis para rodar em ruas e estradas – e até autódromos – e não chegam nem perto da linha de produção. Foi pensando nisso que Novidades Automotivas criou essa série, e semanalmente aparecerá um conceito que fará os leitores pensarem, como diz o título dela, “porra, por que não produziram!?”
O carro que marca a estreia dessa série é nada menos que o Shelby GR1.
A ligação entre Carrol Shelby e a Ford é longa, existindo desde a década de 60. E, em 2004, a montadora americana e o ex-piloto e construtor texano já haviam (re)feito a parceria para mostrar o Ford Shelby Cobra Concept (que brevemente aparecerá nessa série). Mas, tal qual aconteceu com o Shelby Cobra original, Carrol e a Ford criaram um “irmão” para o roadster. Daí nasceu o Shelby GR1 Concept. GR1 vem de “Group Racing 1”, o que já dá uma boa ideia da índole que o protótipo possuía.
Diferente de muitos carros-conceito, que apostam em tecnologias mirabolantes que levam décadas para aparecer em carros de série, o GR1 era perfeitamente viável para ser produzido. Muita dessa viabilidade vem do fato dele compartilhar com o Ford GT – que, à época, era fabricado e era um senhor carro de sonho – o chassi e itens como direção, suspensão e freios. Dessa maneira, a Ford economizou tempo não só no desenvolvimento do protótipo, como o adequou a uma possível realidade que (ainda?) não veio.
Para desenhar a carroceria, a ideia era, logicamente, fazer uma referência moderna ao clássico Cobra Daytona dos anos 1960. E nisso a equipe de J. Mays fez um ótimo trabalho. Os primeiros esboços foram feitos por um dos designers do time, George Saridakis, e, após alguns meses, as formas definitivas estavam prontas. A carroceria de alumínio, além de conferir beleza e leveza ao bólido, tornaria a produção mais barata que se fossem usados materiais como fibra de carbono. Outro traço de modernidade aparece nas portas no formato de asa de borboleta, como no McLaren F1. O peso, apesar do uso do alumínio, ficava relativamente alto, na casa dos 1.700 kg.
Para impulsionar o GR1, era necessário um motor à altura. Mas diferente do Daytona original, não veio um V8, e sim um V10 de 390 polegadas cúbicas (o equivalente a 6,4 litros), que debitava 613 cv a 6.750 rpm e 69,3 mkgf de torque a 5.500 rpm. Ou seja, mesmo em 2004 o GR1 já tinha números de potência e torque próximos dos esportivos atuais. Não havia números oficiais de desempenho, mas estima-se que o 0-100 km/h dele seria cumprido em menos de quatro segundos, e que a máxima passaria com facilidade dos 320 km/h, ainda que o único protótipo existente tenha limitação eletrônica inferior a essa velocidade. Para colocar o carro para andar, uma transmissão transeixo de seis marchas da Ricardo. Com o motor na frente e o câmbio atrás, a distribuição de peso era próxima da ideal.
Por dentro, nada do arrojo ou do futurismo dos carros-conceito. O interior do GR1 foi pensado para se assemelhar a um carro de corrida. Isso significa que os bancos são conchas de carbono e o painel guarda quase todos os mostradores analógicos, com a exceção do velocímetro digital. No carro havia também um sistema de som capaz de, não só ler, como também gravar arquivos em MP3 (a Ford pensou nisso como uma maneira de o piloto gravar as próprias impressões ao dirigir num circuito). No painel, o motorista-piloto também poderia conferir aceleração e pressão dos pneus, além das forças G em curvas e frenagens, que eram transmitidas a ele ao passageiro em tempo real.
Apesar de ter sido apresentado e ter chamado bastante atenção do público nos salões onde ficou exposto, o GR1 acabou não sendo produzido. Em 2007, quando a produção do Ford GT já estava perto do fim, houve alguns boatos de que o GR1 poderia finalmente chegar às ruas. Mas, no final das contas não passou de um boato. É esperar que um dia isso aconteça... será?