Cinco anos de carros chineses no Brasil: como eles estão se saindo?

Por Henrique Rodriguez
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Comecei a escrever sobre automóveis no início de 2009. Àquela altura a participação de carros chineses no mercado brasileiro se resumia a veículos utilitários, como os Chana (hoje Changan) desde 2007 e os CN Auto desde o ano anterior. O único automóvel chinês por aqui era o Effa M100. A chamada “invasão chinesa” estava começando, e deveria atingir seu clímax dentro de poucos meses. Mas, particularmente, hoje o termo “invasão” soa exagerado. Ela não aconteceu como se esperava.

No início eu percebia que os leitores estavam confiantes na proposta dos chineses, que prometiam mais conteúdo a preço mais acessível, e que apenas isso as faria mudar nosso mercado, com as fabricantes nacionais reduzindo o preço e aumentando o conteúdo de seus carros. Isso até terminou acontecendo, mas mais por exigência do consumidor. Pouquíssimos leitores diziam ter coragem de comprar um antes mesmo de conhecer o carro, por causa do estereótipo do “Made in China”.

O brasileiro costuma formar estereótipos de carros por seu o país de origem – “francês é ruim, alemão é bom”. Um erro já com as fabricantes nacionais, cujos carros tem qualidade e características homogêneas. Em se tratando de carros chineses, a disparidade é muito maior, afinal, são quase uma centena, sempre descubro uma nova. Há os HiPhone e os iPhones, todos oriundos do mesmo lugar. Um não é bom, mas o outro é a coqueluche...

Com o passar do tempo foram recorrentes os debates polarizados por custo e qualidade, sem considerar ainda a desconfiança. As informações sobre alguns modelos eram escassas. É muito mais fácil pesquisar na internet sobre um carro europeu do que um chinês, que eventualmente mudam de nome, ou tem eles escritos em logogramas. O que boa parte dos consumidores quer mesmo é opinião de quem já tem antes de se “arriscar”. É nessas horas que o brasileiro mostra sua face racional, e que na realidade não é tão aberto a novidades como se imagina.

Para fazer um balanço sobre estes cinco anos de carros chineses no Brasil, só mesmo analisando caso-a-caso.

Chana/Changan

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Pioneira, a Chana iniciou suas operações no Brasil em 2007 pelas mãos da Districar (mesma que traz os SsangYong). Naquele ano foram 143 unidades emplacadas, o que correspondia a apenas 0,006% do mercado total de veículos de passeio e comerciais leves. Até havia planos de trazer carros de passeio, mas eles parecem ter sido suspensos por causa do IPI majorado para importados. O maior erro da Chana era seu nome, uma piada pronta que foi corrigida no ano passado, quando passou a atender por Changan. Até hoje as únicas reclamações que vi se deram por falta de peças para pronta entrega. No entanto, a primeira revisão se dá aos 1000 km, e é apenas uma inspeção para saber se tudo está “ok”. Ô confiança no produto...

Effa

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A Effa não é uma fabricante, ao contrário do que se pensa. Ela importa carros de alguns fabricantes chineses, como JMC, Hafei e Changhe, que é o caso (ou era) do M100. Este é, talvez, a maior piada do mercado automotivo dos últimos tempos, ou como dizia um engenheiro que foi meu professor “o leite glória do século XXI”. Vale lembrar que ele chegou com o título de “carro mais barato do Brasil”.

Por problemas alfandegários, as primeiras unidades destinadas ao Brasil passaram meses se deteriorando no tempo. Na hora de iniciar as vendas isso não foi considerado, e a Revista Quatro Rodas incorporou um á sua frota do teste “Longa Duração”, que avalia não apenas os carros, mas também a rede de concessionárias por 60.000 km. A questão é que o teste foi interrompido aos 40 mil por julgarem que o carro não oferecia segurança para completar o resto do teste (Vídeo Quatro Rodas EFFA M100).

O carro era tão ruim, que por questões contratuais no final de 2010 o M100 passou a ser produzido em fábrica da Suzuki na China, e isso só se deu após a fabricante japonesa intervir profundamente no projeto, inserindo novos conjunto de suspensões, radiador, bomba de combustível, bateria, coluna de direção e silenciador do escapamento. Estes já estão a venda no Brasil, só que por R$ 24.980 está longe de ser barato como deveria...

Em sites de reclamações é possível encontrar donos de utilitários da Effa reclamando dos mais diversos problemas. Há algumas semanas um leitor nos mandou um e-mail relatando que os eletro injetores estão em falta, e quando tem cada um custa R$ 3.140. Ele precisava de quatro para seu carro. No fim das contas, a substituição custaria metade do valor do carro (!).

CN Auto

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A CN Auto é representante da chinesa Harbin Hafei no Brasil, onde vende desde 2008 o Jinbei Topic e o Hafei Towner. Eles não tem nada a ver com os Asia vendidos na década de 90, senão os nomes. A empresa obteve recentemente licença para produzir o Towner em Linhares (ES) a partir de 2014.

O uso mais popular deles é de lotação, transporte escolar e de prestação de serviços.

No Reclame Aqui, apesar de atender a 96,6 % das reclamações, apenas 57,9% foram solucionadas e a reputação da empresa é “ruim”. Matéria de ontem do Portal Vrum mostra caso de Topic de uso escolar que colidiu com árvore por freio ter falhado.

Chery

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A Chery desembarcou no Brasil há exatamente três anos sob a tutela da Venko Motors, do Grupo JLJ, cuja experiência se resumia basicamente ao ramo alimentício. O primeiro modelo foi o SUV Tiggo, tido como “semelhante demais” com o antigo Toyota RAV4. Meses depois vieram o compacto Face e o Cielo hatch e sedã, tidos como médios. Lembro que nas próprias fotos de divulgação do Cielo era possível ver nitidamente peças do painel mal encaixadas...

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No ano passado chegaram ao Brasil modelos menores, o QQ e o S-18. Este último chegou a ter suas vendas suspensas dias após o lançamento por causa do pedal de freio, que entortou durante testes de revistas especializadas, e só voltou a ser vendido após a substituição da peça em todo o lote trazido, que deveria ter vindo com outra peça.

Reclamações da Chery em sites para este fim estão ligadas à falta de peças e pneus, descumprimento de termos de garantia, e defeitos mecânicos recorrentes. Chegamos a relatar o caso de um Face que aguardava por um mero parafuso de roda havia mais de um mês.chery-face-2011-frente_1280
Hoje está nas mãos da matriz chinesa da Chery as operações no Brasil, e no ano que vem ela iniciará a fabricação de carros no Brasil na fábrica que constrói atualmente em Jacareí (SP). À Venko Motors restou as operações da Rely, submarca da Chery voltada para os utilitários, que chega ao Brasil em breve.

Lifan

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A Lifan chegou ao Brasil na primeira metade de 2010 trazida pelo Grupo Effa, com o sedã 620 e o hatch 320 (a famosa cópia do Mini Cooper), ainda hoje os únicos modelos que oferece no país. Cheguei a passar por uma concessionária da marca no caminho de casa duas vezes para conhecer os carros. Na primeira só havia o 620. Custava R$ 39.900 na época, e apostava no pacote de equipamentos e em seu motor 1.6 16v, que o vendedor insistia em dizer que era Toyota. Muito se fala, aliás, que o 620 é baseado na geração anterior do Corolla (antes de 2002). O carro não parecia ser muito ruim, mas não pude dirigi-lo por não terem ainda uma unidade de test-drive. Cheguei a fazer um texto para o Motorpasión na época, que viria atrair alguns interessados no carro.

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Tempos depois o 320 chegou. Conhecido por ser uma cópia do Mini Cooper, ou como diz o inglês Jeremy Clarkson, do Top Gear, “um Mini Cooper descrito pelo telefone”, apostava em seu aspecto simpático para conquistar os jovens. E lá fui eu conhece-lo... Portas desalinhadas e com fechamento difícil, costuras irregulares, plásticos mal encaixados... No fim, as impressões foram tão ruins que eu não escrevi nada sobre o carro. Se há mais pontos negativos que positivos eu prefiro ficar na minha.

Vale lembrar que os Lifan 620 e 320 são montados no Uruguai, assim como o Chery Tiggo, e chegam sem pagar IPI de carro importado.

Este ano não está bom para a Lifan. A matriz chinesa da Lifan decidiu assumir suas operações na América do Sul, tirando a Effa do negócio. Com isso dezenas de concessionárias foram fechadas, a fábrica de construiriam juntas suspensa e os lançamentos também. A semelhança entre 320 e Mini Cooper virou caso de justiça, e o chinês chegou a ter importação, distribuição, promoção proibidos (veja aqui)... O futuro da Lifan no Brasil por enquanto é uma dúvida.

JAC Motors

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A JAC Motors foi a última chinesa que iniciou suas operações no Brasil, em março de 2011, é a que melhor fez o dever de casa entre as conterrâneas. Por trás das operações no Brasil está o Grupo SHC, também importadora da Aston Martin e que comanda grande parte das concessionárias Citroën no Brasil. Destaques dos carros da JAC não são apenas os equipamentos, mas também a série de alterações dos modelos para o mercado brasileiro e a garantia de seis anos. A JAC não aumentou o preço de seus carros com o aumento do IPI, pelo contrário, até reduziu.

Os primeiros modelos lançados por aqui foram J3 e J3 Turin, que são também os de maior sucesso, com média de 700 e 500 unidades vendidas mensalmente este ano, respectivamente. O J3 foi o modelo melhor avaliado pelo “Longa Duração” da Quatro Rodas nos últimos tempos, e muito disso devido ao bom atendimento da rede de concessionárias.

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Após o J3 vieram a minivan J6 e o sedã médio J5. Mais caros, estes ainda tem participação modesta no mercado, com pouco mais de 200 unidades vendidas no mês passado, cada. Até o final do ano chega o subcompacto J2, que será seu modelo de entrada.

De todas as fabricantes aqui citadas, a JAC Motors é a que tem melhor avaliação no site Reclame Aqui: “regular”, enquanto as outras ou não tem (Chana) ou recebem um “não recomendado” ou “ruim”. 93,2% das reclamações foram respondidas e 79,7% solucionadas.
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Interessante notar que todas as fabricantes chinesas ao menos uma vez responderam uma reclamação, ao contrário das grandes quatro grandes fabricantes. Das 10 mais vendidas, apenas Nissan, Toyota, Peugeot e Hyundai-CAOA respondem, tendo a Toyota a melhor reputação delas: “ruim”.

Outra característica positiva da JAC Motors é que ela cede seus carros para a imprensa especializada com frequência, desde revistas a sites e blogs – ainda que nossas solicitações não tenham sido atendidas -, ou seja, confia em seu produto. A Chery até empresta, mas é mais restrita.

Outros casos:

Great Wall chegou a ter um importador em Brasília em 2008. Tão rápido apareceu como desapareceu.

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Morris Garages (MG)
, de origem britânica, foi comprada por chineses e vende no Brasil carros de luxo fabricados na China. Até hoje só vi unidades de homologação.

Shineray chegou vendendo motos e este ano passou a trazer utilitários. O site da marca se resume a especificações de seus carros e listas de concessionárias (normalmente revendas) em 2 arquivos em PDF.

Haima, Brilliance, BYD e outras fabricantes chinesas já demonstraram interesse no mercado brasileiro, mas seus planos estão paralisados aguardando definições do governo em relação a carros importados.

 

Na verdade não há invasão chinesa no mercado automotivo. Não em proporções que justificassem a majoração do IPI para importados- que foi voltada para as fabricantes chinesas. As fabricantes chinesas sequer dominam seu próprio mercado! Outros setores da indústria, como o têxtil, de eletrodomésticos e de eletrônicos é que hoje necessitam desta “proteção” do governo.

Mas é importante lembrar que em pouco tempo para elas se igualarem com fabricantes tradicionais no que diz respeito à qualidade.

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