Audi A6 Avant 3.0 TDI - Um caso de múltipla personalidade (Parte 2)
Hamburgo/Alemanha - Embora o segmento de peruas esteja praticamente esquecido no Brasil, ele é expressivo em países europeus por uma boa razão: são consideradas mais práticas do que os sedans. As peruas têm a preferência de muitos compradores e correspondem, muitas vezes, a volumes de vendas superiores aos das versões três volumes. Fazendo jus a essa ideia, e também ao seu porte avantajado, a nova Audi A6 Avant, que avaliamos com exclusividade na Alemanha, esbanja espaço interno para passageiros e suas passagens.
Todos têm direito a encostos de cabeça e cintos de segurança de três pontos, há airbags frontais, laterais e de cabeça (dianteiros e traseiros), saídas do sistema de ar-condicionado para os bancos traseiros com comandos independentes (em quatro zonas).
O acesso ao banco traseiro é fácil e há espaço para o quinto passageiro, sem que ele prejudique o conforto dos outros dois ocupantes que ali viajam. Contudo, não há milagre: o quinto elemento vai na segunda classe. O formato de assento e encosto do banco, e ainda o túnel da transmissão e a central de ventilação entre os bancos dianteiros, realmente comprometem o conforto de quem vai no meio. Definitivamente, não é o ideal para viagens longas. Mas é defeito endêmico entre peruas (e também entre os sedans dos quais elas derivam), e não uma falha exclusiva da A6.
O porta-malas também conta com amplo e fácil acesso. Ele pode ser aberto automaticamente por meio de botão no interior, por comando na chave ou ao se passar o pé por baixo do para-choque, quando sensores reconhecem o movimento e liberam a tampa. A cobertura também se ergue automaticamente, junto com a tampa, cujo ângulo de abertura também pode ser regulado – o que impede que a porta atinja tetos baixos em garagens ou galhos de árvores na rua, por exemplo, evitando pequenos arranhões e amassados. O fechamento também pode ser feito eletricamente, pressionando botão localizado na própria tampa. Vale ressaltar que a base do vão de acesso é nivelada ao fundo do compartimento, facilitando carga e descarga, mas que o rebatimento do banco traseiro, embora seja uma tarefa simples, não cria uma superfície totalmente plana (como é também infelizmente comum entre peruas). Uma rede no assoalho, faixas elásticas e compartimentos nas laterais, e um sistema de traves que correm em trilhos, permitem organizar e estabilizar mesmo pequenos volumes, evitando que objetos sejam arremessados de um lado para o outro no porta-malas. Isso evita estragos, barulhos e, principalmente, eventuais sustos ou riscos aos passageiros em casos de frenagens. A capacidade é de 565 litros até a altura do tampão interno, com banco traseiro na posição normal. Com banco rebatido (40/60), chega-se aos 1680 litros e consegue-se uma área de carga com quase 2 metros de extensão (196 cm), o que torna o modelo realmente versátil.
Com relação ao acabamento interno, a Audi realmente conseguiu apresentar um interior que transmite requinte e experiência sensorial superiores nos novos A6. Nem tanto pela qualidade dos materiais utilizados ou pela qualidade de montagem, que já eram exemplares na geração anterior. Mas couro, alumínio polido ou texturizado, madeiras, agora cobrem superfícies maiores, e tanto painel quanto laterais de portas apresentam formas mais fluidas e elegantes. Além disso, o uso de iluminação difusa por meio de LEDs também valoriza o interior do carro, destacando detalhes e criando uma ambiência muito agradável durante a noite – o mesmo recurso é utilizado no exterior para iluminar a posição das maçanetas e o piso ao redor do veículo, facilitando o acesso.
Os bancos dianteiros são um capítulo à parte. Excelentes, contam com largura, densidade e apoios corretos, além de permitir diversas regulagens (quase todas elétricas e com memórias), inclusive para comprimento do assento e ajuste de apoios laterais. Proporcionam conforto sem cansar em viagens longas e suportam o corpo adequadamente em curvas. Contam ainda com aquecimento e ventilação e, como se não bastasse, sabem fazer massagem! Pode-se escolher entre 6 programas distintos, com 5 níveis de intensidade.
O volante tem pega irrepreensível, e seu tamanho ligeiramente pequeno, se considerarmos o porte do carro, é compatível com a agilidade de respostas de direção e suspensão. O aquecimento para o aro se mostrou conveniente em dias frios e sua posição, com regulagens elétricas para altura e profundidade, é memorizada junto às regulagens do banco do motorista. O volante concentra ainda comandos para diversas funções (como o sistema de som, o piloto automático adaptativo, as troca de marchas por borboletas etc.), mas diferentemente de outros modelos, isso não gera confusão nesse Audi. Ao contrário, seu uso é bastante intuitivo.
Capítulo a parte também para os sistemas de interação com sistemas do carro e de assistência à direção. A começar pela interface multimídia MMI, que permite operar um grande número de dispositivos, desde os sistemas de som e de navegação até ajustar diversas opções de conforto e de comportamento dinâmico. A tela do sistema fica embutida no painel dessa nova geração do A6, sendo ejetada quando se dá a partida (se o motorista preferir, pode mantê-la recolhida). O numero de botões de comando foi reduzido em relação à versão que equipava o A6 anterior, e sua utilização é realmente bastante simples e intuitiva. Nesse sentido, a Audi leva vantagem frente às rivais alemãs ao oferecer sistemas com amplas possibilidades de configuração, porém mais intuitivos. E a interface poderia ser ainda mais amigável caso nosso carro estivesse equipado com o MMI touch – considerando a faixa de preço e a estratégia de marketing da marca, ligada à oferta de tecnologia embarcada, a tela tátil deveria ser equipamento de série nessa Avant.
De toda forma, dada a enorme quantidade de opções de configuração, a impressão é de que a maioria dos motoristas irá enjoar de brincar com o sistema antes sequer de terminar de explorá-lo.
O nosso carro também não contava com o assistente de visão noturna, que por meio de uma câmera de imagens térmicas alerta o motorista sobre a presença de pessoas ou objetos na pista, fora do alcance dos faróis. Nem com teto solar panorâmico de acionamento elétrico. E utilizava as nada modestas rodas de alumínio padrão, de 18” – opcionalmente pode-se escolher entre diversos modelos mais esportivos, de 19”ou 20”. Fora isso, tudo o que a A6 Avant poderia oferecer estava lá, incluindo o pacote de acabamento S-Line e o sistema de som da marca Bang & Olufsen, desenvolvido especialmente para o modelo.
A lista de equipamentos é longa e sobre eles seria possível escrever páginas e páginas, então iremos agora falar daqueles que mais nos impressionaram. O vide abaixo ajuda a entender o quanto nos impressionaram.
Comecemos pelo ACC, piloto automático adaptativo, que funciona muito bem, acelerando ou reduzindo a velocidade e mantendo distância de segurança de acordo com o trânsito a frente, e que ainda é capaz de reconhecer o limite de velocidade indicado nas placas, exibindo a informação para o motorista. O sistema tem suas funções complementadas pelo Lane Assist, assistente de faixa da Audi. Utilizando-se dos sensores ao redor do carro, ele reconhece as faixas pintadas no asfalto e faz vibrar o volante ao cruzar faixas involuntariamente. Mas o sistema vai além: ele chega a esterçar levemente o volante, sem a intervenção do motorista, procurando manter o veículo na faixa de rolamento. Essa função, contudo, nos pareceu conflituosa em alguns momentos, quando o sistema aplica força contrária à intenção do motorista ao volante – por exemplo ao trafegar em trechos em obras, com faixas recém pintadas ou remarcações, situação em que nos sentimos mais confortáveis desativando esse assistente.
Em conjunto, ACC e Lane Assist transmitem a clara a sensação de que podem guiar o veículo de forma autônoma, frenando, acelerando e mesmo fazendo curvas suaves enquanto o motorista assiste. Mas não é essa a intenção e, após alguns segundos sem notar a “presença” do motorista, um aviso sonoro é emitido, acompanhado de orientação no painel de instrumentos: “por favor, reassuma a direção do veículo”.
A projeção das principais informações no para-brisas, através do head-up display, também contribui para manter o foco do motorista no trânsito. A Audi conseguiu concentrar e exibir dados sobre velocidade, navegação, piloto automático, assistente de faixa, mas de forma clara, sem gerar confusão visual.
Esse é, aliás, um diferencial da Audi: não gerar confusão. Os comandos em seus modelos são dispostos sempre de forma intuitiva e previsível, de forma que novos motoristas conseguem se adaptar – mesmo quando há grande quantidade de equipamentos e comandos – de forma rápida e natural. Um exemplo é o Side Assist, detector de pontos cegos, que emite um discreto alerta luminoso para avisar sobre a proximidade de um outro veículo fora do campo de visão do motorista. É eficiente ao alertar o motorista sem assustá-lo, não demandando adaptação ao seu funcionamento.
Outro equipamento que chamou (muito) nossa atenção foram os faróis adaptativos, que empregam tecnologia LED para todos os fachos. De acordo com a Audi, por integrar várias funcionalidades e dialogar com diversos outros sistemas do veículo, esses faróis podem se adaptar a cada situação de uso, ao trânsito e às condições climáticas, proporcionando uma iluminação noturna semelhante à luz do dia. De fato, a qualidade de iluminação e a forma de operação adaptativa desses faróis é algo a ser copiado por outras marcas. Auxiliados por informações de outros sistemas do veículo, os faróis acompanham curvas e ainda direcionam os fachos de acordo com o trânsito à frente. São um equipamento caro – bem caro. Mas foram projetados para durar a vida útil do carro e realmente fazem diferença para a visibilidade em estrada – e isso sem ofuscar os outros motoristas. Na nossa opinião, eles valem cada centavo.
Na próxima e última parte, vamos falar de como a A6 Avant se comporta, acompanhe!
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Fotos | Fábio Abreu
Agradecimentos à Audi do Brasil