Dirija-o e ame-o
Por Júnior Almeida
O titulo da coluna desta semana já adianta o espírito que cerca esse automóvel, fruto de uma campanha publicitária de 1971 que trazia junto ao texto uma maça mordida algo que hoje em dia nos faz lembrar o famoso logotipo da Apple.
O primeiro contato com o feroz ronco do motor V8 é uma sensação que nunca se esquece, ao girar a chave no luxuoso interior e sentir o forte torque disponível faz com que se transforme em um ícone, dirigi-lo leva cada motorista a se apaixonar logo ao primeiro contato por ter esse poder em domar fera que está em suas mãos.
A história da Dodge no Brasil começa em 1967, quando a Chrysler adquiriu a Simca, assim sendo fez do principal produto da montadora francesa uma metamorfose, transformando-o no Esplanada. No ano seguinte o governo brasileiro a fim de estimular a industrialização aprovou o investimento de 50 milhões de dólares para produção dos caminhões da americana Dodge parte deste investimento foi destinada para a produção de um Sedan de luxo para concorrer com o sucesso da Ford, o Galaxie.
A Chrysler fez as vezes e apresentou o Dart em 1969 o destaque ficava no poderoso propulsor V8 de 5.212³ que desenvolvia 198 cv e tinha acabamento único neste primeiro ano de fabricação.
O interior como de costume na época, trazia bancos interessos, o vistoso painel chamava atenção dentro do habitáculo, trazendo uma serie de mostradores antes só vistos em automóveis importados incluindo manômetro de óleo e voltímetro item hoje em dia inexistente em boa parte dos veículos.
Mas a surpresa vinha nos detalhes, como uma luz espia no miolo da ignição ativado logo que se abrisse a porta e após um minuto através de um timer se apagava, facilitando a introdução da chave à noite item bastante comum em automóveis mais sofisticados. Surpresa também estava no acabamento que sofreu uma serie de reclamações junto ao excessivo ruído além da má vedação contra poeira e água fazendo com que um numero reduzido de veículos tenha sido vendido comercializado neste primeiro ano de produção, mostrando-se raro hoje em dia.
Mas enquanto o acabamento decepcionava, o poderoso motor não deixava a menor duvida aos compradores, esse era o automóvel mais potente produzido em solo nacional, alcançando facilmente 180 km/h além de ser mestre em ultrapassagens graças ao monstruoso torque de 41,5 mkgf responsável por deixar para trás boa parte da frota nacional na época. Mas os freios sofreram pesadas criticas, pois não correspondiam com o desempenho do Dart muito menos com seu peso.
Começando bem a nova década, 1970 já estava batendo a porta da e a Chrysler apresentou o Dodge Dart Coupé, um modelo que seguia basicamente o mesmo design da tradicional versão Sedan mas trazia a jovialidade das duas portas sem a coluna lateral fazendo dele um hard-top que além de deixá-lo mais desejado passou a oferecer direção assistida facilitando a vida do publico alvo, neste caso os jovens endinheirados.
O Salão de São Paulo de 1971 reservou as novidades mais quentes do momento, lá estavam as versões mais nervosas o Charger LS e o aclamado RT que se transformaram nos automóveis mais desejados da época.
A Chrysler optou por batizá-los com o mesmo nome da versão mais quente comercializada nos Estados Unidos, diferenciando assim a gama esportiva dos modelos de luxo.
A diferença não ficava apenas na nomenclatura, a principal modificação ficava na motorização, modificações foram feitas dentro do mesmo bloco usado no Dart para que fosse possível extrair ainda mais potencia, assim os engenheiros da Chrysler deixaram o Charger R-T com 215cv de potencia e se tornou o automóvel mais rápido já fabricado no Brasil, atingindo 190kmh, já o Charger LS manteve a esportividade com 205cv de potencia deixando a Chrysler no topo dos automóveis mais velozes e desejados por boa parcela da população na época.
O design era puramente exótico, a grade dianteira inteiriça trazia faróis ocultos atrás dela fazendo deles ícones dos esportivos nacionais.
O pacote de itens de série era distinto entre ambas as versões, a LS se mostrava mais luxuosa sem perder a esportividade, o interior mantinha a sobriedade bancos inteirissos assim como no Dart Coupé e utilizava o mesmo painel e mantinha o cambio manual de três marchas, mas opcionalmente podia ser equipado com bancos individuais separados por um console além do cambio automático Torqueflite de três velocidades, ar condicionado e direção hidráulica faziam parte do pacote de opcionais.
Já o R-T, a topo da linha dos esportivos trazia bancos individuais com o console, cambio manual de quatro marchas no assoalho, freios a disco dianteiros e conta giros. O exterior, trazia o teto de vinil preto assim como o LS mas acrescentava as faixas pretas na lateral que percorria toda a parte superior da lateral além das travas externas do motor.
A gama vinha crescendo cada vez mais, a Chrysler S.A do Brasil apresentou duas novas versões do Dart à SE, aquela para quem não queria passar dos 30, mil cruzeiros como foi destacado pela forte campanha publicitária na época e o luxuoso Gran Sedan, que ficava bem acima deste preço.
Special Edition era a versão básica do Dart Coupé, focada no publico jovem que não se preocupava com o luxo do tradiconal Coupé mas queria a mesma potencia do modelo tradicional, com leve apelo esportivo chamava atenção pela grade fosca aonde só eram vistos os dois faróis. Assim como no Charger RT, duas faixas percorriam a lateral do SE assim como no interior, os bancos individuais e o cambio no assoalho seguiam o padrão do esportivo.
O Gran Sedan pelo contrário, esbanjava do luxo e maximo requinte para disputar mercado com o luxuoso Galaxie LTD . Para isso, trazia um visual bastante comportado, composto por calotas integrais,faixas brancas e teto de vinil além dos curiosos repetidores de pisca no capô. O interior mostrava que o Dodge poderia brigar com o LTD, volante com centro acolchoado, painel revestido com imitação de cerejeira e um caprichado revestimento nos bancos que demonstravam ainda mais luxo.
O ano de 1973 revelaria a nova identidade do Charger LS e RT que deixariam a dianteira ainda mais agressiva, graças a grade dianteira que agora era dividida trazendo o emblema da montadora no centro mas mantendo os faróis do tipo sealed-beam escondidos pela grade dianteira que agora contavam com dois de cada lado mas agora com luzes de seta entre eles.
O capô do RT mostrava a agressividade através das falsas tomadas de ar posicionadas nas extremidades bem acima dos cilindros do motor bastante parecidos com a versão americana vendida no mesmo ano que exalavam agressividade.
O LS também adotou a nova identidade, mas manteve o ar sereno se comparado ao RT principalmente no exterior que se manteve bastante parecido com o anterior. O interior por sua vez, ficou idêntico ao do RT que agora contavam com painel imitando cerejeira, assim como no luxuoso Gran Sedan que mostravam a sofisticação dos esportivos junto aos novos bancos que se mantinham individuais, mas foram redesenhados para melhor acomodar os passageiros
A motorização não foi modificada, permanecendo o poderoso motor 318 V8 que rendia 205 cv para o LS e 215 no RT respectivamente, mantendo o cambio de quatro marchas manual para ambas as versões com o opcional do automático de três. Como na reportagem de novembro de 1972 da Revista Quatro Rodas destacava “Apesar de suas característica de carro veloz, feito para grande desempenho, o Charger pode ser guiado com facilidade no transito da cidade. Por isso, as vezes ele parece não ter necessidade das quatro marchas: pode-se sair normalmente em segunda e engatar depois a quarta, sem que ele trepide, exatamente porque o motor tem muita força”.
Com as vendas subindo cada vez mais, Ford e Chevrolet se sentiram ameaçadas, lançando o Maverick GT e o Opala SS para tentar abocanhar uma fatia deste mercado em ascensão. O Único que podia fazer frente ao RT era o Maverick GT, que era equipado com o poderoso motor V8 que desenvolvia 199cv e brigava diretamente com o Charger, mas no final do ano a crise do petróleo abalou fortemente o mercado dos automóveis mais potentes, para driblar a crise e a baixa nas vendas a Chrysler disponibilizou o inovador Fuel Pacer System, um dispositivo que acionava os repetidores de luzes de direção dos pára-lamas dianteiros afim de alertar o motorista sempre que o pedal do acelerador era pressionado com mais força, mas era apenas um sistema opcional que alertava o motorista, não o impedia de continuar acelarando.
Em 1975 o Dart Coupé e o Gran Sedan incorporavam a identidade visual já imposta pela divisão esportiva, mas com um tom muito mais comportado outra novidade era a ignição eletrônica que mantinha o sistema regulado e um melhor desempenho.
Um ano depois, a Chrysler deixaria de oferecer no mercado o Dart SE, o Grand Coupé e o Charger LS. O Charger RT passou a contar com uma taxa de compressão igual ao dos modelos mais “caretas” para que pudesse usar a tradicional gasolina amarela, mais barata do que a exclusiva gasolina azul mas com isso o desempenho não seria mais o mesmo e o fim estava próximo.
Em 1978 o esportivo perdia as falsas tomadas de ar no capô e o teto de vinil era limitado apenas para a parte traseira da carroceria, boa parte disso deixou o Charger RT mais comportado perdendo boa parte da esportividade para manter a economia de combustível e manter uma média de vendas, o fim da clássica geração do Charger RT chegou em 1979 com uma nova geração e lançamento de dois novos modelos, o Le Baron que substituía o Dart,uma nova geração do Dart Coupé e o luxuoso Coupé Magnum, a Chrysler incorporou o consagrado nome do esportivo na mesma carroceria do Dart Coupé com pintura de dois tons que mais parecia um automóvel de luxo do que um real esportivo.
Toda a linha Dodge, com seu charme, conforto e esportividade deixou uma legião de fãs como eu, que no primeiro contato assim como o titulo da coluna me apaixonei por essa fera que foi a linha de modelos Dodge fabricados no Brasil, ao som de All Rigth Now da banda americana Free nos encontramos na próxima sexta.