Coluna Alta Roda – Chinês também tem vez
Não é todo dia que um importador faz uma aposta tão audaciosa no mercado brasileiro, considerando ainda se tratar de representação de uma marca chinesa independente e menos conhecida no mercado internacional. Pois assim o empresário Sérgio Habib, do Grupo SHC, lança a JAC (Jianghuai Automobile Co.) do alto de um investimento de nada menos que R$ 380 milhões. Para se avaliar o montante, equivalente a US$ 220 milhões, é mais do que outra chinesa, a Chery, anunciou que aplicaria na fase inicial de construção da fábrica em Jacareí (SP).
Habib, ex-presidente da Citroën no País e ainda responsável por cerca de 50% das vendas da marca francesa por meio de concessionárias próprias, tem grande experiência de mercado. E também visão apurada de marketing ao eleger 18 de março o “Dia J” (alusão ao Dia D, da II Guerra Mundial), quando inaugurará, simultaneamente, 46 concessionárias completas (50, contando as quatro sem oficina no local). Nenhum importador independente, até hoje, ousou tanto.
A empresa estatal JAC produz caminhões e só começou com automóveis há pouco mais de três anos. A fábrica, claro, incluiu o que existe de melhor em termos industriais, capacidade instalada anual de 500.000 unidades, estúdio de estilo em Turim (assessorado por Pininfarina) e uma linha coincidente com os segmentos de maior venda no Brasil. Mas, no ano passado, só exportou 21.000 unidades. O País se tornaria seu maior mercado no exterior.
O Grupo SHC projeta vender 36.000 carros este ano e pelo menos 60.000, no próximo. De cara, pretende conquistar 1% do mercado nacional de automóveis, algo que a Nissan penou para alcançar. Hábil com estatísticas e números, Habib acha inexorável as Quatro Grandes (Fiat, Ford, GM e VW) perderem espaço e prognosticou: “Em três anos, marcas chinesas conquistarão de 5 a 6% do mercado nacional, equivalente ao que as sul-coreanas também alcançarão”.
A estratégia de abordagem do mercado está correta. Garantia total de seis anos, sem limite de quilometragem; revisões a preço baixo e fixo; seguro acessível. E preço bastante competitivo, apostando na oferta de equipamentos, em versão única completa. Os modelos vendidos aqui são diferentes e mais caros (10%) que os chineses, inclusive na seleção de fornecedores.
O compacto hatch J3 custa R$ 37.900 e o sedã J3 Turin, R$ 39.700. Os concorrentes nacionais – Gol, Palio, Corsa, Fiesta e outros – saem no mínimo 10% mais caro, à paridade de equipamentos. Ainda em 2011, chegam o monovolume J6 (junho) e o sedã médio-compacto J5 (setembro).
Rodando com o J3 dá para perceber que é o melhor dos chineses hoje à venda, pelo menos por enquanto, pois chegarão vários outros. De porte e espaço interno semelhantes ao Gol, tem porta-malas maior. Acabamento é razoável, sem peças mal ajustadas, rebarbas ou impressão de fragilidade. Faltam ajuste de altura do banco, de distância do volante e até de altura do cinto de segurança. Há apoio bem definido para o pé esquerdo.
As suspensões passam boas sensações (independente também atrás). Precisão de engates do câmbio deixa a desejar e o motor de 1,3 l/108 cv, apesar de moderno, apresenta respostas lentas em baixas rotações, o que desagrada em especial no uso urbano.
RODA VIVA
PELO segundo mês consecutivo, agora em 2011, os modelos de entrada com motor de 1 litro de cilindrada ficaram com 46% das vendas totais. Esse nível se situa seis pontos percentuais abaixo da média dos últimos anos, em torno de 52%. Ainda é cedo para saber se a tendência se manterá nos próximos meses. Está ocorrendo, possivelmente, por uma combinação de fatores.
ENTRE as explicações aparece o aumento da taxa de juros nos financiamentos de 60 meses, mais disseminado na faixa dos modelos de entrada, prejudicando as vendas. Outros atribuem a mudança ao aumento da venda de veículos importados, quase todos com motores acima de 1.000 cm³.
TAMBÉM há quem atribua o fenômeno a uma evolução do mercado. Os próprios compradores, com poder aquisitivo em ascensão, teriam se convencido de que a diferença de preço não justificaria o menor desempenho e uma economia de combustível desproporcionalmente baixa, se houver. A se confirmar, motores de baixa cilindrada poderiam responder por menos de 45% até o fim do ano.
EMBORA nada definido, a Volkswagen tem alternativa ao Passat fabricado na Alemanha, se decidir importar o carro homônimo produzido nos EUA. O que atrapalha é o imposto alto nas duas origens. Mas o Passat americano foi pensado para oferecer as mesmas características do europeu, com as vantagens de baixo custo da nova fábrica de Chattanooga, Tennessee.
INSPEÇÃO veicular ambiental, em São Paulo, entra no quarto ano e permanece a absurda exigência de vistoriar automóveis com menos de três anos de uso. Contraria toda a experiência acumulado por mais de 40 países, que optaram por quatro ou cinco anos, contando o primeiro emplacamento. Realmente, parece que o motorista brasileiro perdeu a vontade de se indignar.