Mamadeira…de gasolina?
Pode parecer inusitado, talvez seja. Mas é a única explicação plausível para explicar minha paixão pelos carros. No meu círculo social sou taxado como louco ou como gênio, mas não será uma dúzia de adjetivos que mudará o meu gosto por automóveis. Uma volta ao passado faz-se necessária para entender de onde vem tanta loucura, mas uma loucura boa (se é que isso existe).
Sou um ser do século passado, pré-Restart e sons congêneres, nasci no ano de 1991, em Ipatinga. Meu pai, um Engenheiro Mecânico outrora apaixonado pelas corridas dos anos 70 (e com uma pontinha de admiração pelo Porsche 917), já estava desprovido de paixão pelo mundo automotor. Tanto é que me tirou do hospital em um Fiat Spazio 1983 bege, com o qual ficou por 7 anos e 340.000 quilômetros rodados sem problemas como diziam assombrar os Fiats. Entretanto, o “147 chique” ficou até o ano de 1992, e aí começaria minha paixão pelos automotores.
Carro para mim, exceto pelo carrinho de bebê, era essa máquina aí.
No ano do impeachment do Collor, meu pai tirou um Kadett SL 1.8 EFI a álcool na extinta Motorauto em Belo Horizonte. O nome Motorauto tinha peso no automobilismo nacional desde a época de Toninho da Matta (pai do Cristiano da Matta) e seu Opala que competia na Divisão 3 do Campeonato Brasileiro de Turismo, passando pelo Chevette do Brasileiro de Pilotos e Marcas. Bom começo para mim, já que o Kadett chamou tanto minha atenção na infância que nele estão muitas das minhas lembranças mais antigas. A trava de segurança da porta junto da maçaneta, o revestimento escuro com listras claras finíssimas, as rodas de aço com calotas centrais de plástico preto, o ruído característico do Família II da GM na garagem...
O Kadett permaneceu conosco até 1994, mas as lembranças permaneceram nítidas.
Opala 21 da Equipe Motorauto, e uma carretera atrás
Prodígio? Talvez. Louco? Provavelmente. Apaixonado? Com certeza.
Juntamente da conquista da Copa do Mundo de 1994, veio para casa um Mille Eletronic prata. Não era muito fã do carro como do Kadett, e gostava mais da frente reestilizada da linha Uno pós-1991. Entretanto, no interior deste é que surgiu minha paixão pelo rock, o que me deixa feliz nos dias atuais, ao lembrar que era um pirralho de 3 anos que adorava “Let Me Try Again”, do Skank. Bendito seja o Mille. Entretanto, em um dia qualquer de 1995, ele disse adeus. Para seu lugar veio um Corsa Wind 0km, azul marinho, lindo. Fui buscá-lo novamente, desta vez na autorizada Chevrolet de Ipatinga. Não durou muito tempo em casa. Meus pais arrumaram alguma coisa e então, três dias depois, minha mãe chegou de BH com outro carro novo.
Um Tipo. 1.6, 5 portas, vermelho. Do alto dos meus 4 anos, decorei até o endereço na concessionária de onde saiu o carro. Os mostradores sobre o painel de forma até então inusitada, um ponteiro de “RPM”, o toca-fitas Midas de gaveta e até a porta pro banco de trás! Isso sem contar nos carros dos meus tios, que também me chamavam a atenção. Um Gol CL 94, uma Belina L 89, um Fusca 79. Todos eles tinham seu encanto. Todos os carros encantavam-me. Achava estranho o Santana CLi do vizinho do lado, por ser marrom com interior da mesma cor, já de segunda geração e 2 portas. Entretanto, achava bonito o Gol do vizinho do outro lado, vinho, que ficava com a esposa.
O Tipo era bem parecido com esse acima, exceto pelas calotas.
1996 foi o ano da consolidação. Mudamos de casa, para uma rua abaixo da que eu morava. E com isso, foi-se embora o Tipo. Era preciso de dinheiro, e um carro mais antigo viria. Veio um Uno 1.6R 1994, em março ou abril de 1996! Cintos vermelhos, tampa do bagageiro preto, rodas de liga e pintura grafite. Lindo, era coisa de colecionador! Entretanto, bebia mais que o Boris Ieltsin (quem?) e deu lugar a um Uno 1.5 94 também, da mesma cor do Corsa do ano anterior! Em agosto do mesmo ano, vieram dois presentes que mudariam minha vida: Meu irmão mais novo e uma revista Quatro Rodas! Duelo do Palio e do Fiesta, uma reportagem sobre o trânsito de São Paulo, dentre outros destaques daquela que foi a minha primeira leitura do gênero.
O Uno durou até julho de 1998. Eu arrumei o carro seguinte de casa, de forma tal que meu pai deu-se o trabalho apenas de ligar pro vendedor, verificar o estado do carro em uma vinda a BH e me levar em seguida para buscá-lo. Eu tinha 7 anos e arrumei um Tempra 16v faturado em fevereiro de 1996, verde turmalina, comprado 0km em Sorocaba, interior do estado de São Paulo, e acompanhado seu dono, um gerente do Banco do Brasil, eu sua mudança para BH. O dono tinha-o deixado na Motorbel na capital mineira, para levar um Marea recém-lançado. Voltamos para Ipatinga e em seguida rumamos para o litoral da Bahia, e o Tempra tinha 18 mil quilômetros rodados. Durou até 2004, e 192 mil quilômetros rodados totais.
Idêntico ao velho guerreiro, exceto pela cor e pelas rodas.
Anos ouvindo o despertar do bialbero da Fiat que empurrou o 128 no tricampeonato mundial de Rally, já que meu quarto fora construído em cima da garagem. Um bom tempo vendo o ponteiro passar das 3000 rotações por minutos e um ruído apaixonante invadindo o habitáculo. O Ar Condicionado digital, bancos de veludo, faróis de longo alcance. E cada vez mais lendo, comprando revistas, inclusive fazendo a cabeça do meu pobre pai para me levar no Salão do Automóvel de 1998. Andei umas 12 horas ininterruptas como quem vai do quarto de casa na sala.
Tarde demais para os que me julgam louco. A mamadeira de gasolina já fazia seus efeitos permanentes. Desde o longínquo ano de 2002, veio um Palio Young 1.0 2001, seguido de Palio Adventure 1.6 2002, Fox 1.0 2005 e o atual Fit 1.4 LX Flex 2007, que está de saída também. Juntamente veio o advento da internet, e o final dessa história de gasolina, suor e lágrimas é lida agora.
Esse é o atual titular, mas já de saída.
Eu sou Renato Passos, do Novidades Automotivas, e estarei a partir de agora ocupando o seu dia-a-dia nesse recinto de informação. Espero agradá-lo, mas se não for possível, não ligo. Sou humano e erro, mas personalidade é parte do meu espírito marcante.
Até mais!