Coluna Alta Roda – Acordo torto
Por Fernando Calmon
Tudo parecia mais um dos vários seminários técnicos que são realizados rotineiramente a cada ano e acompanhados por essa coluna. Porém, o seminário Emissões Veiculares e Meio Ambiente realizado semana passada, durante o Salão do Automóvel de São Paulo, teve uma característica distinta: foi compulsório. Fazia parte de um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo como “compensação” pelo imbróglio que levou ao descumprimento de prazo para adoção do diesel de melhor qualidade. Sem diminuição do teor de enxofre os fabricantes não poderiam oferecer os dispositivos antipoluição, particularmente onerosos e complicados em qualquer motor diesel.
O problema na realidade começou na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Deixaram passar o tempo em tolas discussões internas. Petrobrás e Anfavea cruzaram os braços. Só não contavam com a reação do MPF e sua exigência de ajustamento de conduta. A petrolífera passará a produzir um dos melhores diesels do mundo com apenas 10 ppm de enxofre – em duas etapas, 2012 e 2014 – e os fabricantes deverão atender a uma norma mais rigorosa, igual à atual europeia. O seminário fez parte do acordo que foi lido por três vezes em meio às apresentações.
Entre palestras e debates salvaram-se todos. Informações densas e uma previsão da demanda de combustíveis no Brasil até 2030, apresentada em dois cenários, pelo economista da Petrobrás Eduardo Correia. Para o consumidor interessa saber que o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) já traz avanços em apenas três anos. Os resultados do ano-modelo 2011 foram divulgados no dia anterior. Roberto Real, do Inmetro (responsável pelo PBE), destacou que houve uma melhora de consumo de combustível de até 3,6% na média dos modelos compactos (6,5 a 7 m² de área projetada no solo, classificação diferente do mercado). No total há oito categorias.
Na escala de notas, de A (melhor) a E (pior), usa-se o critério de consumo energético, mais justo com gasolina e etanol. O Inmetro corrigiu em até 20% os dados de consumo obtidos em laboratórios, necessários para a consistência dos testes. “Antes dessa mudança recebemos na nossa ouvidoria 100 reclamações de motoristas e depois, nenhuma”, afirmou Real.
O programa é voluntário, mas já está decidido – não anunciado – a obrigatoriedade para todos os fabricantes dentro de um ano. A GM e agora a Honda desistiram de participar, enquanto a Ford entrou no grupo ao lado de Fiat, Kia, Renault, Toyota e VW. Haverá uma espécie de fusão entre o PBE e a Nota Verde, do Ministério do Meio Ambiente, o que pode facilitar a escolha do consumidor segundo seus critérios e pautar as futuras alíquotas do IPI.
Eis os modelos com nota máxima, sem ar-condicionado e motor flex de 1 litro de cilindrada: Mille Fire Economy, Siena Fire, Gol Ecomotion e Renault Logan. Com ar-condicionado, só obtiveram nota A Fusion Híbrido Pleno (como esperado) e Kias Cerato 1.6 e Sorento 2.4, os três a gasolina. Entre motores flex e ar-condicionado também a melhor classificação para Corolla 1.8 (sob encomenda) e Fluence 2.0, sucessor do Mégane sedã e uma das atrações deste Salão do Automóvel, à venda no início de 2011.
RODA VIVA
TOYOTA começará a ver o Brasil com outros olhos, nos próximos anos. Por enquanto, vem o compacto acessível inspirado no Etios, em 2012. A filial espera poder influenciar mais a matriz no Japão. Significa que o compacto anabolizado Yaris e o médio-compacto Auris (versão hatch do Corolla), em novas versões, estariam sendo cogitados para a fábrica de Sorocaba (SP).
VENDAS no mercado interno continuam crescendo nas médias diárias. Em outubro atingiram 15.159 unidades por dia, 3,7% maiores que em setembro e 8% a mais no acumulado janeiro-outubro em relação ao mesmo período de 2009. Como outubro teve um dia útil a menos que setembro, os licenciamentos totais do mês atingiram 303.000 e 307.000 unidades, respectivamente.
VOLUME de exportações voltou a reagir: mais 11,6% sobre setembro e 75% no acumulado de 2010 contra 2009, 649.000 veículos. Em valores – US$ 10,5 bilhões nos 10 primeiros meses deste ano – não seguiram o mesmo ritmo: o País vem exportando mais veículos desmontados (de menor valor agregado) do que montados. E também vem importando mais.
PALIO com motor E.TorQ 1.6/16 V/117 cv (etanol) e o câmbio manual robotizado Dualogic formam um bom par no uso do tráfego pesado do dia a dia. As trocas de marchas no modo automático são aceitáveis, pois há apenas uma embreagem. Na fase de motor frio, no entanto, exige dosar com alguma atenção a pressão sobre o acelerador para arrancar suavemente.
CÂMBIOS automáticos e automatizados (os de duas embreagens, muito melhor) começam a crescer na preferência do consumidor europeu. A tendência é lenta, porém firme. No primeiro semestre de 2010 em comparação aos primeiros seis meses de 2009, a participação subiu de 8% para 9,5% na média dos maiores mercados da União Europeia.
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