Coluna Alta Roda – Vespeiros a cutucar

Por Fernando Calmon

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Nem sempre indústria, concessionárias e governo podem se encontrar em público e dar “recados” mútuos. A oportunidade surgiu em São Paulo, durante o XX Congresso da Fenabrave, a influente federação que congrega todas as associações distribuidoras de marcas atuantes no Brasil, incluindo motocicletas, implementos rodoviários, tratores, caminhões e importadores, além dos automóveis. O peso político da entidade tem crescido não apenas pelo gigantismo de mais de 5.000 empresas representadas, mas por sua distribuição capilar na maior parte dos municípios brasileiros.

Nos discursos houve de tudo, de críticas pouco sutis a deslumbramento. O presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, pela primeira vez admitiu que o mercado interno pode superar 3,4 milhões de unidades (de todos os tipos) ainda este ano e chegar a 6 milhões em médio prazo. Miguel Jorge, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi mais longe: prevê vendas de 6,8 milhões de veículos em 2025. Jorge reconheceu que a carga fiscal sobre automóveis atrapalha a expansão, o que soa como música não só para quem produz e vende, mas principalmente os compradores que pagam a totalidade dessa conta.

Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, sugeriu que impostos sejam desagregados nas tabelas de preço dos veículos a fim de que todos avaliem a diferença. Haverá coragem para tanto? Os congressos passam e as tabelas ficam. Reze destacou o excesso de feirões, ofertas e promoções, o que estaria aniquilando a rentabilidade das concessionárias e pediu mudanças aos fabricantes. Isso, de fato, não é boa notícia, pois os clientes já compreenderam o jogo e com certeza desejam que continue assim: mais concorrência, preços menores.

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Na conferência magna, Sergio Marchionne, principal executivo da aliança Fiat-Chrysler, voltou a criticar o modelo de negócio mundial da indústria automobilística. Mas suas generalizações parecem exageradas. Confirmou para breve novos aportes no Brasil e a volta da Alfa Romeo ao País em 2012. E acrescentou: “Continuaremos a investir na expansão da gama de produtos e, nos próximos anos, isso irá alavancar os resultados de nossa colaboração com a Chrysler”. Ou seja, não acenou (dessa vez) se a marca americana está nos planos de produção no Brasil ou na Argentina.

Jornalista da Automotive News Europe, Luca Ciferri, em exposição a distância, defendeu que países como China, Brasil, Índia e Rússia devam ser reconhecidos além de simples emergentes, pois puxam o mercado global. Porém, precisariam adotar regulamentações de segurança e emissões de poluentes mais rigorosas, aproveitando o patamar elevado de escala produtiva.

Outro ponto interessante surgiu na palestra de Ricardo Costin, do Grupo BVL, de Belo Horizonte. Com experiência nos dois lados do balcão – antes na indústria, agora na rede de distribuição – colocou paradigmas que precisariam ser repensados em ambos os setores. Um deles a impossibilidade por legislação, nos dias de hoje, de haver preços diferenciados por volumes de vendas entre as concessionárias. No futuro, isso poderia ser revisto pois contraria o livre mercado e a concorrência. Trata-se de mais um vespeiro que poucos querem cutucar.

RODA VIVA

AGOSTO foi o segundo melhor mês em vendas da série histórica – 313.000 unidades – e as exportações continuaram reagindo em função do comércio com a Argentina, principal cliente do Brasil. Ritmo das importações, no entanto, permanece muito forte. Incluindo produtos mexicanos e argentinos (sem imposto de importação), respondem por 18% do mercado total.

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CONFORME antecipado pela coluna, a Fiat substituiu o motor do Linea, de 1,84 litro, pelo novo E.torQ flex, 1,8 l, de desempenho e consumo de combustível melhores. A fábrica de Betim (MG) teve a iniciativa de cortar a potência em 5 cv (de 132 para 127 cv) da versão de entrada LX, apenas para atender os taxistas. Tipo de legislação totalmente anacrônica.

CITROËN Aircross destaca-se por seu generoso espaço interno, posição de dirigir e visibilidade frontal e lateral. Boa vedação das portas e o para-brisa acústico ajudam no silêncio a bordo, apesar das suspensões algo ruidosas. O painel é menos ousado que o da versão francesa, mas o desenho do volante compensa. Quem viaja atrás encontra o conveniente assoalho plano.

CRIANÇAS podem viajar no banco dianteiro, com a respectiva proteção (berço, cadeirinha ou assento de elevação), em carros mais antigos que dispõem apenas de cintos de segurança de dois pontos no banco traseiro. Escala de idade permanece: até um ano, de um ano a quatro e de quatro a sete anos e meio. Denatran dispensou certidão de nascimento.

PETIÇÃO moção de apoio ao Museu do Automóvel de Brasília pode ser feita pela internet. Basta clicar no link http://tinyurl.com/27uynsj. O museu existe há seis anos e está ameaçado de fechar porque o imóvel cedido está sendo pedido pela Secretaria de Patrimônio da União. Provavelmente para guardar papéis, digitalizáveis.

Foto_F._Calmon_17_m_dia_3_[11][7]Sobre o autor:
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Novidades Automotivas e em uma rede nacional de 80 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra).

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