Por Fernando Calmon
Picapes derivadas de automóveis formam um segmento particularmente interessante no Brasil. Afinal, este ano devem superar as 200.000 unidades vendidas ou 7% do mercado de automóveis e comerciais leves. Algo além de um nicho de mercado, dividido entre cinco fabricantes e opções de cabines simples, estendida e até dupla.
Esse tipo de veículo, curiosamente, nasceu na Europa em 1930, com o Peugeot 202. Nos EUA, a meca das picapes em geral até hoje, o primeiro modelo sem improvisação derivado de automóveis surgiu em dezembro de 1956, a Ford Ranchero. A aceitação foi baixa, mas continuou até 1979. Entre as derivadas de compactos, a Nissan lançou seu produto em 1971, seguida pela Fiat, em 1978, baseada no 147. Hoje, só no Brasil e na Austrália (de porte maior) há modelos assim à venda, mas nada se compara ao nível de interesse daqui.
Picapes compactas têm utilização diversificada. É difícil classificar com exatidão como se distribuem os compradores, mas, na média, estima-se que 80% se concentram em uso misto, 10% apenas carga e 10% pessoal/lazer. No uso misto, estima-se que pelo menos metade valoriza bastante o visual, o comportamento com caçamba vazia e o volume para apetrechos esportivos.
Nesse contexto, a Chevrolet Montana tinha que se renovar. Lançada em 2003 com base no Corsa II, a nova picape utiliza a arquitetura e metade da cabine do Agile, por sua vez originada na primeiro Corsa. Para atender todos os públicos os fabricantes brigam por frações nas fichas técnicas informadas. A GM aponta a maior capacidade de carga – 758 kg –, apenas 16 kg a mais que a Hoggar. Quanto ao volume, a Montana precisa se desfazer do protetor de caçamba de série para derrotar por apenas 29 litros (1.180 contra 1.151 litros) a concorrente da Peugeot, cujo protetor é opcional.
A solução estética da nova Montana ficou mais atraente que a do Agile. Exemplos dos cuidados de projeto são o desenho das janelas fixas nas colunas traseiras e a pequena bolha no teto por razão mais estilística do que aerodinâmica. Até os apoios para o pé nas laterais da carroceria foram redimensionados. A tampa da caçamba agora é mais baixa, melhorando a visibilidade pelo espelho retrovisor interno e por possuir dimensões menores pode ser manuseada sem esforço (na Saveiro, existe uma mola a gás para compensar o peso). A fim de facilitar as manobras há sensores de distância opcionais no para-choque traseiro, protuberante além do razoável.
No interior, ambos os encostos dos bancos podem ser rebatidos até a posição horizontal e conveniente no dia a dia. O espaço atrás na cabine é limitado (164 litros), embora o fabricante aponte um total de 25 porta-objetos. A GM alega descartar a cabine estendida para evitar interferência com sua picape média S10.
As sensações ao dirigir são as esperadas para um veículo de altura total elevada e bons ângulos de entrada e saída. Para controlar a inclinação da carroceria em curvas a barra estabilizadora dianteira tem diâmetro avantajado, solução técnica nada sutil herdada do Agile.
Os preços vão de R$ 32.000, 00 a R$ 44.000,00. A fábrica espera aumento de 15% nas vendas, o que não vai alterar sua terceira colocação, atrás da Strada e da Saveiro.
RODA VIVA
ANUNCIADO a conta-gotas, investimento inicial da Chery é modesto: US$ 130 milhões para produzir 50.000 unidades/ano em Jacareí, a 70 km de São Paulo (SP). Maioria das peças virá da China. Começam pelo hatch compacto Face e o sedã derivado. A primeira fábrica chinesa no Brasil, no entanto, pode receber aporte de até US$ 400 milhões (RS 700 milhões).
EMBORA frases educativas obrigatórias já apareçam em vários anúncios, a partir de 5 de outubro todas as peças publicitárias, inclusive filmes, deverão reproduzir alguma das seis sugestões criadas pelo Contran. Mensagens curtas como “Cinto de segurança salva vidas”. A mais criativa não deixa por menos: “No trânsito somos todos pedestres”.
EDUCAÇÃO na forma mais ampla, de campanhas à formação de motoristas, está entre as prioridades que levaram a Alemanha ao recorde de redução de mortos nas estradas. Em 40 anos, a queda foi assombrosa: de 21.332 óbitos em 1970, para 4.154 no ano passado. Redução em torno de 80% deu-se apesar do enorme aumento da frota circulante.
GOL RALLYE, agora também na geração atual, repete a fórmula: altura elevada em 2,8 cm (distribuídos entre amortecedores, molas e pneus), decoração externa de bom gosto, sem exageros e interior com forração de teto e colunas em preto. Pena que manteve a mesma potência (104 cv/etanol). Pneus são para asfalto. Na terra, sem lama, desempenho é razoável.
CRIATIVIDADE sem limites ao vender serviços. Com a clara intenção de tentar agregar valor, a simples substituição do fluido tornou-se “limpeza do sistema de freios”, conforme especificado em nota fiscal. A operação, obviamente, não limpa nada. A troca está prevista nos manuais a intervalos de um ou dois anos, em geral, dependendo do tipo de fluido.
Sobre o Autor: Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Novidades Automotivas e em uma rede nacional de 80 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra). |